Folha de S. Paulo


Lobista diz ter ouvido que Silvio Pereira recebia 'cala-boca' de R$ 50 mil

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
EXECUTIVA NACIONAL DO PT. SAO PAULO - JUNHO, 08: Reuniao da Executiva Nacional do PT em 08 JUNHO 2005, no Diretorio Nacional do PT, rua Silveira, 132, Mesa esq.p/direita: Silvio Pereira, secretario geral, Jose Genoino, presidente, Marlene Rocha, vogal, e Delubio Soares de Castro, secretario financas. (Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem - 0614 - SP05573-2005,Snapfoto02;13, Brasil)
Silvio Pereira, ex-secretário nacional do PT, em reunião do partido em 2005

O lobista Fernando Antonio Guimarães Hourneaux de Moura afirmou, em depoimento prestado à força-tarefa da Operação Lava Jato, ter sido informado que o ex-secretário nacional do PT Silvio Pereira recebia "um cala-boca", ou seja, um dinheiro que garantiria seu silêncio a respeito de irregularidades, de duas empreiteiras sob investigação, a OAS e a UTC Engenharia.

A informação foi divulgada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" neste domingo (31) –a Folha teve acesso à gravação, que havia sido disponibilizada na quinta-feira (28) pela Justiça Federal nos autos de ação penal que trata da fase da Lava Jato denominada Pixuleco.

Silvio Pereira foi um dos mais importantes quadros da direção nacional do PT, tendo deixado o comando da legenda após o escândalo do mensalão, em 2005.

Na gravação, Moura aparecendo dizendo que "não tinha como afirmar", mas que "ficou sabendo" de "conversa com o pessoal", cujos nomes não detalhou, que Pereira recebia R$ 50 mil "em dinheiro vivo". Ele não explicou qual a frequência desses supostos pagamentos.

Indagado pelos investigadores se o "cala-boca" era "para não revelar essas fraudes" apuradas na Lava Jato, Moura confirmou: "Para não revelar, para não revelar".

Moura admitiu que ele próprio começou a receber um "cala-boca" em meio ao escândalo do mensalão, a partir de 2005. Na época Moura havia deixado o país, segundo ele por recomendação do ex-ministro José Dirceu, mas meses depois retornou ao Brasil.

Segundo Moura, ele estava tendo muitos gastos no exterior e, por isso, foi feita uma reunião com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque para definir o seu "cala-boca".

"O 'cala-boca' era essa receita. Eu tive uma reunião com o Milton [Pascowitch] e com o [Renato] Duque em que ficou determinado que eu receberia um dinheiro para ficar lá fora. Esse dinheiro vinha da Hope", disse Moura, em referência a uma empresa fornecedora da Petrobras.

Os investigadores da Lava Jato indagaram a Moura quem havia determinado o pagamento.

"O Renato Duque. A minha reunião foi com ele e com o Milton Pascowitch. Eu estava fora e estava em dificuldade, porque ficar lá era caro, conversei com Milton e ele fez uma reunião na casa dele com o Renato, participaram o Renato, o [Pedro] Barusco, o Milton e eu", explicou Moura.

Os investigadores quiseram então saber se "houve ciência" do ex-ministro José Dirceu sobre esses pagamentos.

"Eu não sei, mas deve ter havido, porque o Milton não disporia de dinheiro sem ter autorização para isso", respondeu Moura.

VOLTA ATRÁS

O depoimento de Moura foi prestado porque ele havia desdito, na frente do juiz federal Sérgio Moro, parte de seus primeiros depoimentos prestados em acordo de delação premiada. Ele havia dito ao juiz, por exemplo, que Dirceu não havia lhe dado "uma dica" para que saísse do país durante o escândalo do mensalão.

No novo depoimento à Lava Jato, porém, Moura confirmou que Dirceu lhe disse para deixar o país por um tempo.

"Quando eu procurei [Dirceu], porque eu estava preocupado porque queriam me envolver o tempo inteiro na CPI. Eu procurei o Zé. Ele falou 'vai viajar para esfriar a cabeça'. Aí fui viajar, voltei quatro meses depois. Aí eles colocam [no depoimento] que foi dada uma dica. A dica foi isso", disse Moura.

Procurado neste domingo (31), Silvo Pereira não foi localizado. Os advogados de Dirceu têm dito que Moura "não tem credibilidade", em referência aos desmentidos feitos pelo próprio delator ao juiz Moro.


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