Folha de S. Paulo


Dirceu admitiu que teve reforma em apartamento paga por lobista

Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
O ex-ministro José Dirceu ao chegar para depor à Justiça Federal nesta sexta (29)
O ex-ministro José Dirceu ao chegar para depor à Justiça Federal nesta sexta (29)

O ex-ministro José Dirceu, preso na Operação Lava Jato desde agosto, admitiu ao juiz Sergio Moro que a reforma de seu apartamento foi paga pelo lobista Milton Pascowitch, delator da Lava Jato.

A confissão foi feita no primeiro depoimento do petista ao magistrado, nesta sexta-feira (29), em Curitiba.

A informação foi fornecida pelo advogado de Dirceu, o criminalista Roberto Podval, que usou a expressão "admitiu seus pecados" ao falar sobre o depoimento.

O "pecado" admitido –a reforma–, segundo Podval, foi fruto "de uma relação pessoal que [Dirceu] ficou de pagar depois e não pagou". A reforma teria sido concluída já no período em que Dirceu estava preso.

O ex-ministro é acusado de lavagem de dinheiro, associação criminosa e corrupção passiva. Segundo o Ministério Público Federal, ele recebeu um total de R$ 11,9 milhões direta ou indiretamente de empreiteiras com contrato com a Petrobras por serviços de consultoria que, na prática, nunca realizou.

O ex-ministro também admitiu ter usado jatinho de outro lobista, Julio Camargo, o que, segundo o advogado, era uma prática "de uma vida inteira". "Ele voou, os aviões foram cedidos, disse que na 'minha' vida inteira os aviões sempre foram cedidos, por ele [Julio], por outros".

INDICAÇÃO À PETROBRAS

Dirceu negou ter feito a indicação do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, um dos investigados na operação e que cogita fechar acordo de delação premiada. Disse que nem sequer o conhecia.

Pela explicação do ex-ministro, segundo Podval, havia dois nomes apontados para a função, um do PSDB –que não foi informado– e Duque, pelo PT. Como o PSDB já tinha sido contemplado com um cargo para Minas Gerais, segundo Dirceu, a opção foi aceitar a indicação do PT e o nome de Duque.

Ele deixou o prédio da Justiça para voltar para o Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde está preso, sob gritos e vaias de um grupo de manifestantes.

Na saída, o advogado do petista foi abordado por André Rhouglas, 55, que estava pregado em uma cruz com cartazes contra a corrupção. O manifestante provocou Podval, perguntando quem seria a "alma viva mais honesta" que há, se Lula ou Dirceu –referência à frase dita há alguns dias pelo ex-presidente. "A sua", respondeu o advogado a Rhouglas.


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