Folha de S. Paulo


Dirceu não fará delação porque tem caráter, diz defesa

A defesa do ex-ministro José Dirceu, preso desde agosto na Operação Lava Jato, em Curitiba, disse que fechar um acordo de delação premiada não é uma opção para o petista porque ele "tem caráter".

Dirceu deve ser ouvido pela primeira vez pelo juiz Sérgio Moro nesta sexta-feira (29), na ação penal em que o petista se tornou réu. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal de ter recebido de maneira direta ou indireta R$ 11,9 milhões de empreiteiras que prestaram serviços à Petrobras.

"Por que o José Dirceu não faz uma delação? Aí ele entrega alguém e vai embora, seria a coisa mais óbvia. Mas alguns ainda têm caráter, outros nunca tiveram", afirmou o criminalista Roberto Podval, que defende o ex-ministro, no início da tarde, ao chegar ao prédio da Justiça Federal para acompanhar o depoimento.

A defesa de Dirceu diz que há pessoas "brincando com as delações" e que entregariam nomes-chave do PT em troca de deixarem a prisão. "Virou um bom negócio fazer delações. As pessoas ganharam fortuna de dinheiro, entregam uma parte [nas delações], então se fala do Dirceu, do Lula, devolvem uma parte de suas propriedades, uma parte do dinheiro, e continuam andando de iate, dando risada."

Na mesma linha, Podval comentou que o nome do ex-presidente Lula seria o próximo alvo de acusações. O ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, foram intimados pelo Ministério Público de São Paulo a depor sobre o tríplex no condomínio Solaris, em Guarujá (SP), na condição de investigados. Há indícios, segundo a Promotoria, de que os investigados tentaram ocultar a real origem do apartamento, o que poderia indicar crime de lavagem de dinheiro.

"Não sou advogado do Lula, da Marisa. Conheço só de bastidores, não tenho dúvida de que o próximo nome, assim como era Zé Dirceu, é o Lula. Querem o nome do Lula", disse o advogado.

Na sexta-feira passada, também ao juiz Moro, o lobista Fernando Moura mudou sua versão apresentada na delação premiada e isentou o ex-ministro de ter-lhe recomendado que fugisse do país, no auge das denúncias do caso mensalão, "até que a poeira baixasse". Para Podval, a mudança comprova que as declarações do lobista "não têm menor relevância nem credibilidade".

Nesta quinta-feira (28), porém, o lobista fez novo recuo e voltou a incriminar o ex-ministro. Disse ao juiz que em depoimento anterior havia inocentado Dirceu por temer represálias, mas que sua delação é "estritamente a verdade" –o petista teria, sim, recebido propina de empreiteiras e sabia que os recursos tinham origem em desvios na Petrobras.

Podval negou as acusações. "É mentira. Ele não foi ameaçado em Vinhedo, a gente sabe que não foi. É só ver o vídeo. Aquilo é ridículo, uma bobeira danada. Ele foi ameaçado, sim, de perder a delação, o que era natural, e aí ele saiu correndo e voltou atrás. É só assistir o vídeo dele em audiência, e assistir o vídeo ontem para saber que ele mentiu".

PROTESTO

Além de Dirceu, foi ouvido pelo juiz Moro o executivo da Engevix, Gerson Almada. Ele foi condenado no processo da Lava Jato e é monitorado por tornozeleira eletrônica.

Houve tumulto na saída de Almada do prédio da Justiça Federal. Um grupo de manifestantes com cartazes, megafone e gritos contra o PT cercou o carro que buscou o executivo.

Almada e o advogado negaram-se a dar entrevistas e saíram em silêncio do prédio. Manifestantes cercaram o carro e, sob gritos de "vergonha!", bateram no veículo, até que ele deixasse o prédio.


Endereço da página:

Links no texto: