Folha de S. Paulo


Imóvel da mulher de Vaccari está em nome de funcionária da OAS

A mulher de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT que já foi condenado a 15 anos de prisão, declarou em seu Imposto de Renda que é dona de um apartamento no Guarujá (SP) que está registrado em nome de uma funcionária da OAS.

O imóvel fica na praia de Astúrias, no mesmo condomínio em que a mulher do ex-presidente Lula teve a opção de compra de um tríplex que foi construído e reformado pela OAS. No final do ano passado, após a Operação Lava Jato começar a investigar o edifício, dona Marisa desistiu da compra.

A força-tarefa da Operação Lava Jato diz que a descoberta sobre a mulher de Vaccari "causou espanto" e suspeita que o imóvel tenha sido usado para lavagem de dinheiro que o ex-tesoureiro teria recebido como suborno da empreiteira.

"Esse indício de ocultação de patrimônio (...) reforçou a hipótese de o empreendimento ser utilizado para a lavagem de capitais", escreveram os procuradores em peça que foi encaminhada à Justiça e serviu de base para a 22ª fase da Lava Jato.

A mulher de Vaccari, Gilselda Rousie de Lima, declarou à Receita Federal que era dona no apartamento 43A do edifício Navia, que faz parte do condomínio Solaris.

No cartório de registro de imóveis do Guarujá, no entanto, o imóvel aparece como sendo de Sueli Falsoni Cavalcanti, funcionária da OAS. Dez apartamentos do edifício seguem em nome da empreiteira e o tríplex que seria da família da Lula está registrado em nome de uma empresa criada em Nevada, nos Estados Unidos. Há ainda um apartamento em nome de Freud Godoy, que foi assessor especial de Lula quando ele era presidente.

CUNHADA

Uma cunhada de Vaccari também é investigada sob suspeita de ter usado um imóvel no Guarujá para receber propina da OAS no mesmo condomínio.

Os procuradores suspeitam de lavagem no caso da cunhada por conta dos valores pelos quais o apartamento foi comprado e revendido. Em 2011, a cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima, comprou o apartamento por R$ 150 mil. Dois anos depois, ela desistiu da compra, e a OAS recomprou o imóvel por R$ 432,7 mil. Em 2014, a OAS revendeu o imóvel com prejuízo, por R$ 337 mil.

Segundo a força-tarefa, "em pouco mais de um ano obteve um lucro de mais de 100% sobre o valor investido no bem, revendendo com lucro para a própria incorporadora que assumiu a obra, o que, naturalmente, não é razoável".

Ainda de acordo com os procuradores, "aparentemente, tal negócio serviu para ocultar e dissimular a origem ilícita dos recursos (R$ 432.000,00, ou da diferença), tratando-se de possível vantagem indevida paga pela OAS a João Vaccari Neto".

OUTRO LADO

A Folha não conseguiu até este momento a posição dos advogados da mulher de Vaccari e de sua cunhada.

O advogado do ex-tesoureiro, Luiz Flávio Borges D'Urso, disse que não há nenhuma acusação contra o seu cliente nesta operação. "Ele [Vaccari] teve cotas da Bancoop, pagas mensalmente, tudo dentro da lei, e quando foi presidente da Bancoop ele reorganizou a administração da cooperativa, o que possibilitou a entrega de milhares de unidades aos cooperados."

O advogado da OAS, Edward Carvalho, criticou a operação desta quarta (27). "Ainda não tivemos acesso às razões da busca, mas bastaria ter solicitado os documentos e não fazer algo espalhafatoso assim."

Freud Godoy afirmou, por intermédio de sua mulher, Simone, não "ter o que falar". Simone, por sua vez, disse que ainda paga as prestações do imóvel. "Comprei pela Caixa Econômica Federal e ainda estou pagando por ele", disse ela.


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