Folha de S. Paulo


PSDB não tem nome que una sigla na disputa pela Prefeitura de SP

Fotomontagem
João Doria, Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo disputam indicação no PSDB para tentar prefeitura
João Doria, Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo disputam indicação no PSDB para tentar prefeitura

No dia 12 de janeiro, Maria Maronita de Jesus da Silva saiu de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, e percorreu 30 quilômetros até o Jardim Europa com um único objetivo: conseguir apoio financeiro para manter as atividades do Centro de Apoio de Saúde da Leste (Casal), entidade que fundou em 2005.

No sofá da recepção do comitê político de João Doria, pré-candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, dona Maronita disse à Folha estar filiada ao partido "há mais de 22 anos", mas admitiu não ter "interesse nenhum na militância partidária". "Quero conseguir um empresário para me ajudar."

Hoje, segundo o Tribunal Regional Eleitoral, 27 mil filiados tucanos estão aptos a votar na disputa interna, que, além do empresário e apresentador de TV Doria, tem o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli como candidatos.

É a segunda vez que o PSDB paulistano recorre à consulta a militantes. Em 2012, dos 21 mil filiados, apenas 6.000 participaram do processo que escolheu o hoje senador José Serra.

Para definição de seu candidato da eleição de 2016, o PSDB segue o script de sua história em disputas eleitorais e, mais uma vez, tucanos chegam rachados às vésperas do início da campanha pela Prefeitura de São Paulo.

A divisão é vista por caciques do partido como importante ingrediente que pode beneficiar a candidatura à reeleição de Fernando Haddad, mesmo com o desgaste do PT e a impopularidade do prefeito.

DOIS CONTRA UM

Desde que o governador Geraldo Alckmin sinalizou apoio a João Doria, no início de dezembro, a pré-candidatura do empresário mudou de patamar. Os staffs de Matarazzo e Tripoli passaram a trabalhar para desidratar a inserção de Doria no ninho tucano, apostando no discurso de despreparo do adversário, filiado ao partido desde 2000.

"A prefeitura é a consagração da carreira pública, não é um lugar para aprender. É um lugar de chegada, não de partida", repete Matarazzo.

Ex-embaixador do Brasil na Itália, assumiu a Subprefeitura da Sé em 2005, no governo de José Serra. "Troquei a piazza Navona pela praça da Sé." Depois, virou secretário municipal de Serviços e de Coordenação das Subprefeituras, adentrando a gestão Gilberto Kassab (2006-2012).

De olho no Executivo, Matarazzo se elegeu vereador em 2012. Orgulha-se de ter usado o mandato para circular pelos bairros –o que aposta que lhe será útil como prefeitável.

Para resgatar parte dos filiados que já tinha migrado para o lado de João Doria, Ricardo Tripoli, que entrou na disputa interna há menos de vinte dias, montou uma força-tarefa de militantes que fazem porta a porta.

Coordenados também pelo deputado federal Bruno Covas e pelo presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, tucanos saem pela cidade batendo na porta dos filiados para convencê-los de que Tripoli é o melhor nome.

Em 2012, quando disputaram com Serra a indicação do partido, Tripoli e Aníbal tiveram juntos 40% dos votos.

"Chegou a hora de um filiado como eu disputar e ganhar essas prévias, de um representante legítimo de vocês ganhar a eleição de São Paulo", disse o deputado aos 30 militantes tucanos que reuniu no sábado (21) no Jaraguá.

"Não somos um candidato eventual. Formamos durante muitos anos uma condição de vir aqui hoje e me apresentar para vocês como candidato", emendou, lembrando os 34 anos de vida pública.

Matarazzo tem feito uma pré-campanha, como ele diz, "sem pirotecnia". Em vez de jantares e eventos, prioriza encontros menores com líderes locais, certo de já ser conhecido pelos filiados.

"Andrea é o candidato natural, não uma construção artificial", defendeu a militante Aline Cardoso em almoço com membros do diretório tucano em uma cantina tradicional da Freguesia do Ó no último dia 18.

Nesses encontros, o vereador não tem aparecido com as gravatas italianas e abotoaduras de ouro que o marcaram em 2011, quando iria disputar a indicação, mas abandonou as prévias para não concorrer com Serra.

A correligionários e à imprensa o pré-candidato tem adotado um discurso com foco no social e na periferia. A ideia é firmar-se como uma opção à esquerda de Doria e mais identificada com o "PSDB histórico". Para isso, tem apoio de tucanos proeminentes, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores Serra e Aloysio Nunes e da bancada do PSDB na Câmara.

Matarazzo rejeita os rótulos de elitista, por descender de uma das mais tradicionais famílias da cidade, e de higienista, apontado por grupos ligados a moradores de ruas.

PRIVATIZAÇÕES

Nos bastidores, comenta-se que Doria estaria pagando filiados para participarem de eventos. Para rebater, o empresário passou a repetir o mesmo discurso em encontros com militantes: "Não quero o voto de alguém que, em troca, queira emprego ou favor".

Ele também quer acabar com secretarias temáticas, como de mulheres, índios e jovens. "Não vai ter nenhuma secretaria que não possa demonstrar que todos são iguais e têm a mesma legitimidade." Promete privatizar o estádio do Pacaembu, o autódromo de Interlagos e o Anhembi.

"Sou um defensor do Estado eficiente e suficiente. Estado inchado quem gosta é o PT, coisa da política maldita deles", afirma.

Fundador do Grupo Doria, que reúne seis empresas, entre elas o Lide (Grupo de Líderes Empresariais, formado por 1.700 empresas, que representam juntas 52% do PIB privado do país), ele repete em todas as suas agendas com militantes ter "um bom padrão de vida" e, por isso, promete abrir mão do salário de prefeito.

"Desde o primeiro dia de mandato, não vou receber o salário. Se for obrigado, vou doar para entidades do terceiro setor para dar demonstração clara de como vamos governar", disse aos militantes do distrito de Ponte Rasa, na zona leste da cidade.

O empresário usava uma camisa branca Ricardo Almeida (entre R$ 279 e R$ 1.029) e um dos relógios de sua coleção de Patek Philipe, que custa cerca de € 15 mil. O exemplar, segundo Doria contou à reportagem, foi presente de Victor, da dupla sertaneja Victor & Leo.


Endereço da página:

Links no texto: