Folha de S. Paulo


Dirceu quer falar, diz defesa sobre 1º depoimento de petista a Moro

Na primeira vez em que será interrogado na Operação Lava Jato pelo juiz federal Sérgio Moro desde que foi preso, o ex-ministro José Dirceu deve abrir mão do silêncio a que tem direito para dar, nesta sexta-feira (29), sua versão sobre as acusações de que recebeu propina via recursos desviados da Petrobras.

Preso em agosto do ano passado, na operação batizada de Pixuleco, Dirceu foi acusado pelo Ministério Público Federal de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Segundo os procuradores que integram a força-tarefa da Lava Jato, o ex-ministro recebeu direta ou indiretamente um total de R$ 11,9 milhões de forma ilícita, em forma de pagamentos de empreiteiras que prestaram serviços à Petrobras por consultorias que Dirceu nunca teria feito.

O ex-ministro e outros 14 tornaram-se réus na mesma ação penal resultante da Pixuleco, quando Moro aceitou a denúncia da Procuradoria. Além de Dirceu, foram acusados de envolvimento na corrupção da Petrobras o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-diretor de Serviços Renato Duque e o ex-gerente da diretoria Pedro Barusco.

"Zé Dirceu deve falar, ele quer falar", confirmou um de seus advogados, o criminalista Odel Mikael Jean Antun, nesta segunda-feira (25), em Curitiba. "A denúncia inteira tem uma série de falhas, uma série de questões que devem ser esclarecidas. E o Zé está pronto [para falar]".

O advogado não deu detalhes de quais pontos o ex-ministro pretende esclarecer das acusações que recebeu.

Desde que voltou de férias na semana passada, Moro agendou depoimentos de Dirceu e de todos os outros 14 réus desta ação penal. O ex-ministro será ouvido no último dia. A defesa de Dirceu tem acompanhado os depoimentos dos demais réus.

Logo após ser preso, o ex-ministro decidiu permanecer em silêncio tanto na CPI da Petrobras quando em depoimento na Polícia Federal, no fim de agosto. Dirceu chegou a ser ouvido por outro juiz federal em Curitiba em dezembro, mas para atender a um pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) relativo à sua condenação no mensalão.

Quatro dos depoentes da Lava Jato que não assinaram acordo de delação premiada com a Justiça preferiram ficar calados diante de Moro nesta segunda. Além de Vaccari e Duque, preferiram o silêncio Bob Marques e Júlio César dos Santos, assessor e sócio de Dirceu, respectivamente. Quem é delator tem a obrigação de responder às perguntas do juiz ou pode ter seu acordo de delação prejudicado.

Segundo a defesa do ex-ministro, Dirceu, que é advogado por formação, tem estudado sobre sua denúncia e lido alguns dos depoimentos colhidos enquanto segue detido no Complexo Médico Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.

AVIÃO

De forma direta ou indireta, o montante recebido por Dirceu chega a R$ 11,9 milhões, segundo o Ministério Público Federal. A JD Consultoria, pertencente a Dirceu, ainda pela denúncia da Procuradoria, recebeu pagamentos de empreiteiras contratadas pela estatal sem ter produzido nenhum tipo de serviço de volta.

O empresário Milton Pascowitch, lobista da Engevix e que fechou delação, diz que pagou para o ex-ministro reformas e aquisição de imóveis, além de bancar a compra de uma parcela de uma aeronave.

A defesa de Dirceu nega as acusações. Afirma que Pascowitch usava o nome de Dirceu e que o depoimento de outros delatores, Fernando Moura e Júlio de Camargo, mostram que Pascowitch mentiu.

Segundo o criminalista Roberto Podval em entrevista na semana passada, todos os serviços referentes à contratação de Dirceu foram consultorias, de fato, prestadas. "Um monte de pessoas usou o nome de José Dirceu para receber dinheiro", afirmou Podval, ao afirmar que o ex-ministro não se beneficiou desse recurso.


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