Folha de S. Paulo


Doria pediu favores a chefe de agência do governo Dilma

Marlene Bergamo/Folhapress
João Doria Júnior, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de SP, em encontro com militantes do partido
João Doria Júnior, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de SP, em encontro com militantes do partido

Fim de semana em uma luxuosa casa em Campos do Jordão (SP), com direito a spa e massagens na recepção, aperitivos diante da lareira e até jantar de aniversário de um cantor famoso.

Foi essa a programação que o empresário João Doria Júnior, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, ofereceu a autoridades públicas em 2015.

A pelo menos um dos seus convidados, Doria também fez pedidos de favores pessoais.

Os registros do convescote estão em e-mails enviados por funcionários de Doria aos integrantes da comitiva, em julho do ano passado.

Entre os destinatários das mensagens do tucano estava David Barioni, presidente da Apex Brasil, agência do governo federal responsável pelo fomento à exportação.

Meses antes, Barioni havia recebido outra mensagem.

A mulher do pré-candidato tucano à prefeitura, Bia Doria, enviou, em abril, um pedido para que a Apex patrocinasse uma exposição de suas obras no exterior.

Ela é artista plástica e, no e-mail, diz ter obtido incentivo da Lei Rouanet para captar até R$ 1,7 milhão.

Na mensagem, Bia diz que seguiria "em busca de empresas". "Mas está difícil alguma me falar sim", conclui na comunicação.

Ela ainda ressalta que o marido estava copiado na mensagem e poderia expressar, portanto, alguma contrariedade, se houvesse, ao pedido de patrocínio.

A sequência da conversa, obtida pela Folha, mostra que Doria se manifestou em seguida, dando aval à investida. "Nenhuma objeção. Pelo contrário", escreve o empresário.

"Barioni, aqui ao meu lado, vai avançar neste tema com você", arremata.

Procurada pela reportagem, as assessorias da Apex Brasil e do Grupo Doria confirmaram o pedido de patrocínio feito por Bia Doria, mas disseram que o valor solicitado pela artista acabou não sendo liberado.

A Apex afirmou ainda que o e-mail de seu presidente é público e, portanto, "acionado por várias entidades e empresas que encaminham propostas de projetos e patrocínios" e que uma análise de sua área técnica negou o pedido de Bia.

AMIZADE

João Doria e Barioni disseram, por meio de suas assessorias, que são amigos há mais de duas décadas e que a isso se devem os convites para estadia na casa de veraneio do empresário, em Campos do Jordão.

A proximidade dos dois fica evidente em algumas mensagens.

O presidente da Apex chega a se dirigir a Doria como "meu guru", ao responder um e-mail no qual o empresário pede para ele captar contatos de "potenciais investidores" no Brasil.

A ideia, disse Doria, era reunir um "mailing" para um evento que seria promovido pelo empresário no exterior, em maio daquele ano.

O pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo –que disputa a indicação no partido com o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli– usa termos cordatos, como "amigo", ao se dirigir a Barioni e chega a dar conselhos sobre a estratégia de comunicação a ser adotada pela agência pública na divulgação de seus programas.

Em uma das mensagens, de junho de 2015, Doria opina sobre a escolha de uma rádio na qual a Apex veicularia propagandas.

Questionada pela reportagem, a Apex disse que sua estratégia de comunicação só é debatida pela "diretoria e o conselho deliberativo da agência".

Já o Grupo Doria disse que "nunca houve consulta" sobre a estratégia de comunicação a ser adotada pela Apex.


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