Folha de S. Paulo


Pagamento de propina 'era sistemática que se aprofundou', diz delator

Ueslei Marcelino - 10.mar.15/Reuters
Former manager of Petrobras Pedro Barusco testifies for the Parliamentary Commission of Inquiry in the Chamber of Deputies that investigate allegations of corruption at Petrobras in Brasilia March 10, 2015. REUTERS/Ueslei Marcelino (BRAZIL - Tags: POLITICS) ORG XMIT: BSB10
O ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, delator na Operação Lava Jato

O ex-gerente da Diretoria de Serviços da Pebrobras Pedro Barusco Filho, delator na operação Lava Jato, disse em interrogatório para o juiz Sérgio Moro, nesta quarta-feira (20), que o pagamento de propina por empresas que tinham contato com a estatal "era para manter status quo", porque se tratava de "uma sistemática que existia e se aprofundou".

A declaração foi dada durante depoimento nesta quarta na Justiça Federal de Curitiba. Outros dois delatores foram ouvidos pelo juiz, os irmãos Milton e José Adolfo Pascowitch.

Questionado por Moro o motivo de empresas pagarem propinas, Barusco afirmou que elas o faziam "para manter o status quo". "Era uma sistemática que existia e se aprofundou, virou um modus operandi, uma coisa normal", disse Barusco.

No depoimento, o delator voltou a afirma percentuais de propina que eram destinados a ele, ao chefe, Renato Duque a ao PT, com intermédio do tesoureiro do partido João Vaccari Neto.

Segundo ele, 2% de cada contrato com as grandes empresas envolvidas no cartel era destinados para propina, sendo 1% alocados na diretoria de serviços e 1% na diretoria de abastecimento, comandada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, que também fechou acordo de delação premiada. Dos 1%, diz Barusco, 0,5% era destinado para o PT e 0,5% ao que era chamado de casa, que era o valor repartido internamente entre Duque e Barusco.

O delator também afirmou que o ex-tesoureiro João Vaccari Neto era o responsável por gerenciar a propina pelo partido.

Em depoimento à CPI da Petrobras em março do ano passado, Barrusco afirmou que começou a receber propina de forma "institucionalizada" a partir de 2003 ou 2004.

No depoimento, o ex-gerente da estatal reafirmou que participou de jantares com o ex-ministro José Dirceu, um deles inclusive na casa do petista. Nos encontros eram discutidos projetos da estatal –se o assunto propina era abordado, respondeu Barusco ao juiz federal, ele não foi feito na frente de todos, mas possivelmente em outras salas, separadamente.

A defesa de Dirceu afirmou que, pelos depoimentos prestados até o momento, o que se nota é que "muita gente usou o nome" do ex-ministro para ganhar dinheiro". Dirceu foi preso em agosto do ano passado com base na delação e nos documento apresentados pelos irmãos Pascowitch. Milton afirmou ter custeado reforma em um apartamento e uma casa de Dirceu e também ter entregue R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PT em 2010.

O criminalista Roberto Podval, que defende Dirceu, diz que os depoimentos deixaram claro que o nome do ex-ministro era usado para se obter propina, sem que ele fosse realmente receptor do recurso ilícito.


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