Folha de S. Paulo


Advogados criticam apuração oficial sobre a morte de Eduardo Campos

Os advogados contratados pelas famílias dos pilotos do voo em que morreram o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos e mais seis pessoas, em agosto de 2014, criticaram nesta quarta (20) a conclusão da investigação da Aeronáutica, que atribuiu o acidente a erros dos pilotos. Eles pretendem processar a fabricante do avião.

Para os advogados, que fizeram uma investigação paralela com o auxílio do perito Carlos Camacho, o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) não foi transparente durante a apuração e focou-se somente na tese da falha humana, omitindo-se quanto às "questões materiais" do tipo do avião, um Cessna Citation modelo 560 XLS+.

O advogado Ruben Seidl apontou dois pontos que considerou problemáticos na investigação oficial: 1) o Cenipa não utilizou um simulador para reconstituir o acidente e 2) deixou de analisar incidentes e acidentes ocorridos com a mesma família de aviões no Brasil e no mundo.

"[Tenho] Absoluta convicção de que foi uma falha técnica", afirmou o comandante Camacho, que disse ter realizado testes, em meados de 2015, com um simulador nos Estados Unidos.

De acordo com o especialista, a própria fabricante pôs no manual da aeronave um aviso de que, em certas condições, o "speed sensor" (sensor de velocidade) pode falhar, mudando a posição do estabilizador horizontal (estrutura na parte posterior), levando o avião a mergulhar.

Esse aviso da própria Cessna, segundo Camacho, foi desconsiderado pelo Cenipa.

"O Cenipa não soltou nenhuma recomendação técnica de segurança de voo dizendo para os navegantes: 'Vocês todos receberam o 'warning' [aviso] desse modelo de avião [alertando que], se você recolher os 'flaps' [dispositivos nas asas] acima de 200 nós e o sensor de velocidade falhar, você vai ganhar um mergulho?'", disse o especialista.

"Temos todos os indícios de que foi isso que aconteceu", afirmou Camacho.

Segundo ele, ao contrário do que concluiu o órgão oficial, os pilotos não estavam desorientados espacialmente nem haviam perdido o controle, pois há imagens que mostram que, antes do choque com o solo, o "nariz" da aeronave tentava subir –o que demonstraria que o piloto estava no comando.

Camacho também rechaçou as afirmações do Cenipa de que os pilotos não tinham treinamento ou estavam cansados. Segundo ele, os profissionais já tinham realizado no mínimo 90 pousos e decolagens com aquele modelo de avião e haviam, no dia anterior ao acidente, descansado por 34 horas.

O perito e os advogados afirmaram ainda que há registros de ao menos dois incidentes com o mesmo modelo de avião. Nesses casos, só não houve mortes, segundo eles, porque havia altitude suficiente para reverter a situação –diferentemente do caso com Campos, em que a aeronave estava perto do solo.

Os advogados das famílias dos pilotos, Seidl e Josmeyr Oliveira, disseram que vão processar a Cessna na Justiça dos Estados Unidos. Eles anunciaram que devem ingressar com a ação até maio.

RELATÓRIO DO CENIPA

A conclusão da investigação da Aeronáutica sobre a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos é que o avião caiu devido a desorientação e falta de habilidade dos pilotos, que não seguiram procedimentos de pouso em condições meteorológicas adversas.

Infográfico: A queda do avião de Eduardo Campos

Eduardo Campos morreu em Santos (SP), em 13 de agosto de 2014, às 10h03, após o avião em que voava, um Cessna Citation modelo 560XLS, de prefixo PR-AFA, cair sobre um bairro residencial. Outras seis pessoas morreram no acidente.

Campos tinha 49 anos e era candidato à Presidência da República pelo PSB. Após sua morte, Marina Silva, postulante a vice, assumiu a candidatura e terminou as eleições em terceiro lugar.

Segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a falta de conhecimento da aeronave e da área de pouso, além de erros de julgamento sob estresse fizeram com que os pilotos perdessem o controle da aeronave após arremeterem o pouso.


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