Folha de S. Paulo


Para investigadores, erros dos pilotos levaram à queda do avião de Campos

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A conclusão da investigação da Aeronáutica sobre a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos é que o avião caiu devido a desorientação e falta de habilidade dos pilotos, que não seguiram procedimentos de pouso em condições meteorológicas adversas.

Eduardo Campos morreu em Santos (SP), em 13 de agosto de 2014, às 10h03, após o avião em que voava, um Cessna Citation modelo 560XLS, de prefixo PR-AFA, cair sobre um bairro residencial. Outras seis pessoas morreram no acidente.

Campos tinha 49 anos e era candidato à Presidência da República pelo PSB. Após sua morte, Marina Silva, postulante a vice, assumiu a candidatura e terminou as eleições em terceiro lugar.

Segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a falta de conhecimento da aeronave e da área de pouso, além de erros de julgamento sob estresse fizeram com que os pilotos perdessem o controle da aeronave após arremeterem o pouso.

De acordo com as investigações, conduzidas pelo tenente-coronel Raul de Souza, os pilotos ignoraram as recomendações de pouso do fabricante do modelo e da pista de pouso.

"Com pilotos bem treinados, habilitados, descansados e sem tal nível de estresse, reduziriam muito a possibilidade de queda. Mas a perda de orientação espacial também pode acontecer nessas situações", afirma.

A queda do avião de Eduardo Campos

Até mesmo a rota descrita pelo avião para se aproximar da pista foi feita de forma errada. Segundo Souza, um trajeto mais curto, utilizado pelos pilotos, ganharia 5 minutos.

Segundo as recomendações de pouso em condições adversas para o aeródromo de Santos, o avião deveria passar uma vez sobre a pista de pouso e dar uma volta antes do pouso.

Um atenuante é que, segundo o investigador, é possível que os pilotos não tenham recebido os boletins meteorológicos nas últimas duas horas anteriores ao acidente.

Nesse espaço de tempo, a visibilidade e o vento pioraram significativamente. A ponto de, por recomendação do fabricante, ser transferido o pouso em Santos para outro aeroporto.

O avião, no entanto, fez uma rota de aproximação direta, sem ter contato visual com a pista e com velocidade 20% acima do recomendado.

Quando, sem condições de pouso, os pilotos decidiram arremeter –ação tomada mais de 1,5 km além do ponto determinado para isso–, eles não o fizeram conforme os procedimentos.

Eles deveriam fazer uma curva ascendente à esquerda, mas o avião continuou sobrevoando, em baixa altitude, sobre a área da pista.

A partir disso, eles perderam o controle da aeronave, caindo em 22,4°, a 695 km/h –quase 50% acima da velocidade de voo em baixa altitude.

A Aeronáutica traçou o perfil dos pilotos –treinamento, experiência, testes psicológicos e habilitações– e concluiu que eles não estavam preparados para enfrentar uma situação como essa.

Segundo eles, diversos fatos levaram à desorientação espacial –quando os pilotos ficam sem saber para qual direção estão indo.

O piloto não tinha feito cursos de adaptação à aeronave, tendo apenas os cursos para o modelo anterior. O caso do copiloto é ainda mais grave. Não possuía qualquer habilitação para voar com essa família de aviões. Ele passou por um treinamento de uma outra família de aviões da Cessna.

Testes psicológicos do copiloto também apontaram passividade e dificuldades no assessoramento ao comandante em situações de emergência.

Isso, segundo o investigador, pode ter comprometido as habilidades do piloto durante o voo, pois este estaria altamente sobrecarregado.

Embora a tripulação estivesse submetida a uma alta carga de trabalho, ela ficou sem voar por 36 horas, tempo adequado para descanso. Mas análises das vozes dos pilotos, captadas no aeroporto Santos Dumont apontaram cansaço e sonolência do copiloto.

SEM FALHA MECÂNICA

As investigações descartaram erros de projeto da aeronave, cujo modelos similares se envolveram em uma lista de incidentes.

A caixa preta não pôde ser utilizada. Ela estava desligada desde janeiro de 2013.

"Nesse caso, os perfis de voo e de arremetida nos mostram que não há evidências de falha de engenharia", diz Souza.

Antes da imprensa, os investigadores receberam os familiares das vítimas para explicar as causas do acidente.

Não estiveram presentes os parentes do assessor de Campos, Pedro Valadares Neto, e do copiloto, Geraldo Magela.

IRMÃO DE CAMPOS

Para Antônio Campos, irmão do ex-governador, o relatório do Cenipa "não aprofunda as condições e o projeto da aeronave", embora, ressalta ele no texto, tenha sido "provocado para tanto".

"O alegado cansaço e falhas dos pilotos relatados pelo Cenipa, no máximo, constituem culpa concorrente, precisando ser elucidada a possibilidade de erro de projeto", afirmou em nota.


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