Folha de S. Paulo


FHC rebate Cerveró e diz que compra de empresa argentina foi exemplar

Bruno Santos - 22.out.2015/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL- 22-10-2015: O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista para a Folha de S. Paulo, em seu escritório no Instituto FHC, zona Central de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** PODER *** EXCLUSIVO FOLHA***
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vê uma operação para vincular seu partido, o PSDB, à Operação Lava Jato, mas diz que a ofensiva não o inquieta.

"Esta tentativa de misturar o PSDB com os demais na Lava Jato não me preocupa", afirmou o tucano à Folha. "Não tem base."

A fala de FHC é uma resposta à citação do delator Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Segundo documento apreendido no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso por participação no esquema, Cerveró diz que a compra da empresa argentina PeCom pela estatal brasileira, em 2002, envolveu o pagamento de US$ 100 milhões em propinas ao "governo FHC".

O ex-presidente diz que procurou antigos dirigentes da estatal, como o ex-diretor financeiro João Nogueira, para apurar o assunto. Ele afirma que o preço da operação "foi considerado baixo, pois a Argentina estava em crise".

FHC também ressalta que Cerveró não era diretor da Petrobras na época e diz que a compra da empresa citada pelo delator "se transformou em um 'case' em Harvard, tão limpamente foi feita".

FHC disse ainda que, no documento, Cerveró não diz quais integrantes do governo teriam recebido propina nem quem teria pago. "Fica só o mau cheiro no ar, sem que se possa usar desinfetantes".

REUNIÃO

As menções a integrantes do tucanato no esteio da operação Lava Jato também foram alvo de discussão entre o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), e os deputados que lideram a sigla na Câmara, nesta terça-feira (12), durante um almoço em Brasília.

A Folha mostrou ao longo da última semana que o nome de Aécio também foi citado por delatores da Lava Jato –um deles, Carlos Alexandre de Souza Rocha, entregador de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, disse aos investigadores ter ouvido de um diretor da empreiteira UTC que o mineiro foi o destinatário de R$ 300 mil, no segundo semestre de 2013.

Na ocasião, Aécio chamou a citação de "absurda". O dono da UTC, Ricardo Pessoa, que também é delator na investigação, não mencionou o senador mineiro em seus depoimentos. "Trata-se de mais uma falsa denúncia com o objetivo de constranger o PSDB", afirmou a assessoria do senador, na época.

A avaliação sobre a repercussão das menções ao tucanato na Lava Jato foi a primeira conversa formal de Aécio com integrantes do seu partido desde que ele retornou das férias, no domingo (10).

Segundo deputados do PSDB que participaram da conversa, a avaliação é de que que "FHC foi rápido ao rebater as menções à sua gestão".

A ordem na cúpula da sigla, afirmam, é que nenhum tucano se esconda quando for citado. O partido tem fiado seu discurso na teoria de que há uma tentativa deliberada de disseminar as responsabilidades do escândalo na Petrobras entre os integrantes da oposição. Essa é a linha da fala de Aécio nos bastidores.


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