Folha de S. Paulo


Mensagens indicam que Wagner intermediou doação de empreiteira, diz jornal

Ed Ferreira - 26.mai.15/Folhapress
O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras
O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras

Mensagens de texto do ex-presidente e sócio da OAS José Aldemário Pinheiro, o Leo Pinheiro, indicam que o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, tratou de doações para a campanha do PT em Salvador em 2012. À época, Wagner era governador da Bahia.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo". As mensagens foram descobertas no celular do empreiteiro, que já foi condenado a 16 anos de prisão, pela Operação Lava Jato no Paraná e encaminhadas à Procuradoria-Geral da República.

Para se referir a Wagner, segundo os investigadores, Leo Pinheiro usa as iniciais JW ou o codinome "Compositor", alusão ao compositor Richard Wagner.

A operação ocorreu no segundo turno da eleição, quando o petista Nelson Pellegrino enfrentava ACM Neto (DEM) na disputa da capital baiana. O terceiro colocado, Mário Kertész, havia deixado o PMDB para aderir ao candidato petista enquanto o seu partido apoiava o candidato do DEM.

Em uma das mensagens a outro dirigente da OAS, Pinheiro relata conversa com Wagner, na interpretação dos investigadores: "O Compositor [Wagner, segundo a Lava Jato] me ligou ontem, disse-lhe que estava fora e que MR iria procurá-lo x MK. Se resolveríamos o nosso apoio ao Andarilho ou qual seria a solução?"

MR, segundo as investigações, é Manuel Ribeiro um executivo da OAS encarregado de acertar doações eleitorais. MK é Kertész, e Andarilho é um trocadilho com o nome de Pellegrino. Uma outra mensagem cifrada disparada pelo empreiteiro no mesmo dia diz: "3.600 Street Brown" –o que seria, segundo os investigadores, uma alusão a um repasse de R$ 3,6 milhões para a campanha petista em Salvador.

No dia seguinte, Ribeiro relata a reunião com Wagner: "Amigos estive com o figura. Ele falará com MK para deixar depois do evento. Disse que o valor não é real e não pediria para Leo se soubesse o tamanho. Vai baixar e dividir", segundo trecho relatado pela publicação.

Pinheiro responde: "Ok. Salvador acho que devemos dar +1".

Manuel Ribeiro detalha a conversa: "A pedida +5, me fingi de surdo, depois 2 e acabamos no 1,5. 0,5, deixando +1 para o final [] Disse que não havia estimativa e não havia interesse exceto atendê-los. Mas forçou a barra mesmo e fui obrigado a cchegar a =0,4".

Leo Pinheiro assente: "Ok, tinha lhe mandando antes de lhe falar 1,5 + 0,4". Para os investigadores, trata-se de R$ 1,9 milhão.

Os advogados de Leo Pinheiro não falaram sobre o assunto até a publicação desta reportagem.

HADDAD E BENDINE

No Twitter, Jaques Wagner disse estar "absolutamente tranquilo" quanto à sua atividade política. "Minha atuação sempre foi marcada pela defesa dos interesses da Bahia e do Brasil", escreveu.

Com base nas mensagens, o jornal cita ainda que Leo Pinheiro atuou para ajudar o prefeito Fernando Haddad (PT) no projeto de rolagem da dívida de Estados e municípios. Pinheiro recorre a Eduardo Cunha (PMDB-RJ), relator do projeto.

Ao jornal, o prefeito admitiu a conversa com o empreiteiro, mas negou qualquer irregularidade. Haddad disse que também conversou com o próprio Cunha a inclusão de uma emenda de interesse dos municípios.

O ex-presidente do Banco do Brasil e atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, também é citado nas mensagens de Leo Pinheiro. O executivo é mencionado em uma operação de emissão de uma debênture (títulos da dívida) da OAS de R$ 500 milhões.

Bendine disse que todas as propostas de clientes ao Banco do Brasil tiveram tratamento técnico. Segundo o BB, o banco recebeu as propostas de debêntures da OAS, mas a operação não foi contratada. A instituição acrescentou que "o recebimento e a análise de propostas de negócios enviadas por grandes empresas é uma atividade rotineira".


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