Folha de S. Paulo


Investigado, filho do presidente do TCU avança sobre teleféricos no Rio

Criada em abril deste ano, uma empresa do advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Aroldo Cedraz, está perto de controlar todos os teleféricos em favelas do Rio. O sistema se tornou símbolo das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na cidade.

Três empresas do advogado estão envolvidas com a construção e operação de teleféricos na cidade. Um contrato foi obtido sem licitação junto a consórcio formado por empresas envolvidas na Operação Lava Jato.

Tiago Cedraz passou a ser alvo de um inquérito da Polícia Federal após ter seu nome citado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, em acordo de delação premiada. Ele disse ter pago R$ 50 mil mensais ao advogado para receber informações do TCU.

A construção dos dois teleféricos contou com verba federal, do PAC. O TCU é o responsável por monitorar a aplicação dos recursos da União em convênios com Estados e municípios.

Em junho, a empresa Providência Teleféricos foi escolhida, sem licitação, para operar as gôndolas em favela de mesmo nome no centro. Ela foi subcontratada pela concessionária Porto Novo (Odebrecht, Carioca e OAS), responsável pelas obras e serviços da revitalização da zona portuária do Rio —área da qual a favela faz parte.

Cedraz já havia atuado indiretamente na construção do sistema. Sua empresa Euroconsult é, desde 2010, representante comercial da austríaca Doppelmayr, especializada em construir teleféricos.

A empresa austríaca foi subcontratada pelo consórcio Rio Faz, também formado por Odebrecht, Carioca e OAS —todas alvo da Lava Jato—, para construir as estações, fornecer as gôndolas e instalar todo o sistema de cabos que compõem o teleférico. O serviço custou à prefeitura R$ 82 milhões, parte financiada com verba do PAC.

No mês passado, a Providência Teleféricos foi declarada vencedora da concorrência para administrar o teleférico do Complexo do Alemão (zona norte). Vai receber R$ 2,7 milhões por mês.

Na disputa, ela faz parte do consórcio Rio Teleféricos, junto com a Hanover Administradora de Bens Próprios, também da família Cedraz.

O resultado da concorrência ainda não foi homologado porque há recursos em análise. A operação é bancada pela Secretaria Estadual de Transportes.

O teleférico do Alemão foi o primeiro a ser erguido em área urbana no país, experiência inspirada em Medellín (Colômbia). Ele foi construído a partir de 2008 pela francesa Poma, concorrente da Doppelmayr. A obra custou cerca de R$ 200 milhões.

Daniel Marenco - 10.set.2013/Folhapress
Teleférico no Complexo do Alemão que deverá ser administrado por empresa de Cedraz
Teleférico no Complexo do Alemão, que deverá ser administrado por empresa de Cedraz

OUTRO LADO

O advogado Tiago Cedraz, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que a Providência Teleféricos foi criada "quando surgiu a oportunidade de participar das concorrências de operação dos teleféricos".

Ela está perto de controlar os dois sistemas do Rio após ter sido criada em abril.

Cedraz disse que assumiu o sistema da favela da Providência (centro) por indicação da Doppelmayr.

Ele afirmou ainda que a participação da empresa austríaca na obra foi negociada diretamente por ela e o consórcio. Ele é representante comercial da Doppelmayr no país desde 2010.

O advogado disse também não haver conflito de interesses no TCU em atuar na obra na Providência porque, segundo ele, o contrato não contou com verba federal. A União e a prefeitura confirmaram uso de recursos do PAC na construção.

Cedraz negou as acusações de Ricardo Pessoa na delação premiada da operação Lava Jato. E disse que o empresário fez referência a seu nome tendo como objetivo "distorcer fatos para construir uma delação com o único propósito de atenuar seus inúmeros crimes".

A Doppelmayr disse que contratou Cedraz sem ter conhecimento de seu parentesco com o presidente do TCU. A empresa afirmou que indicou a Providência Teleféricos para operar o sistema após desistir de fazê-lo. A empresa austríaca considerou o contrato "de baixo valor e razoável risco jurídico".

Em nota, a Porto Novo afirmou por meio da Comunicação Mais, sua assessoria de imprensa, que a Providência Teleféricos "apresentou todas as qualificações técnicas exigidas pela concessionária, sendo também credenciada junto ao fabricante do equipamento".

A Odebrecht, líder do consórcio Rio Faz, afirmou por meio de sua assessoria que a contratação da Doppelmayr foi precedida de "cotação entre os fornecedores cadastrados para o serviço".

"O processo levou em consideração os parâmetros de mercado, como custo-benefício, qualidade e atendimento às exigências técnicas", diz a nota da assessoria.


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