Folha de S. Paulo


Disputado, aceno de Alckmin a pré-candidato João Doria racha PSDB

Na segunda (14), quando deixou o Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, com destino à casa de Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) já havia escrito cada uma das linhas do discurso de cinco minutos que faria para João Doria Jr., pré-candidato do PSDB a prefeito de São Paulo.

O governador, que até então evitava tecer comentários sobre a disputa interna pela sucessão municipal de 2016 para não comprometer-se, havia dito a auxiliares que aquela noite mudaria o rumo das prévias tucanas.

No fim de sua fala, Alckmin recorreu ao escritor francês Victor Hugo para sinalizar apoio à pré-candidatura de Doria. "Victor Hugo dizia, João, que nada segura a ideia de que chegou o seu tempo. E eu quero dizer que ficarei muito feliz se esse tempo for João Doria para trabalhar por São Paulo", afirmou o governador.

Na plateia, importantes nomes do PIB do país, como os empresários Lírio Parisotto, Alexandre Lafer, José Roberto Ermírio de Moraes e Roberto Klabin entreolharam-se surpresos ao verem, nas palavras de um interlocutor do Bandeirantes, o governador "descer do muro".

A decisão do governador de abandonar a discrição veio de sua sensação, revelada a assessores, de que a disputa interna será entre Doria e o vereador Andrea Matarazzo. "É, acho que só vão ficar esse dois mesmo."
Embora evitasse manifestações públicas, Alckmin vinha trabalhando nos bastidores para frear a pré-candidatura de Matarazzo, que considera muito ligado ao grupo do senador José Serra.

TERREMOTO

A sinalização de Alckmin pró-Doria causou imediata reação no PSDB e no Bandeirantes. "Foi um verdadeiro terremoto", definiu um dos homens próximos ao governador. O partido e a Casa Civil sugeriram, imediatamente, que ele "restabelecesse" seu equilíbrio em relação à disputa por meio de uma carta. Pouco depois de aprovar a ideia, Alckmin recuou e preferiu ficar com a declaração de apoio ao empresário.

Tucanos históricos passaram, então, a discutir uma reação ao gesto do chefe do Executivo paulista.

Em conversas reservadas, caciques como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores José Serra e Aloysio Nunes Ferreira e o ex-governador Alberto Goldman -todos aliados de Matarazzo - se dispuseram a "fazer o que for preciso" para demover Alckmin de sua posição.

"Temos vários candidatos no partido com tradição política. O único candidato que não tem essa tradição, que não é compatível com a história política do partido e com a história política da cidade é João Doria", disse um integrante da direção nacional do PSDB que pediu para não ser identificado.

Editoria de Arte/Folhapress

UNIÃO

Mesmo aqueles que não estavam ao lado de Andrea Matarazzo juntaram-se ao vereador para, segundo um dirigente do partido, "deixar claro que não apoiam Doria".

O presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, e os deputados federais Bruno Covas e Ricardo Tripoli cogitaram divulgar uma manifestação de repúdio à posição do governador.

Na manhã de sexta (18), o triunvirato, que pretendia até então lançar um nome em conjunto para a disputa com Doria e Matarazzo, se reuniu com o vereador.

Acertaram que está na hora de "ir para cima" para impedir que a pré-candidatura de Doria ganhe ainda mais força com a militância tucana, que escolherá em 28 de fevereiro o candidato do PSDB que disputará a eleição na capital paulista com Fernando Haddad (PT).

Pesquisas internas mostram que, se a decisão das prévias fosse hoje, Andrea Matarazzo teria 42% dos votos e João Doria, 25%. Caso seja necessário, a disputa vai para o segundo turno, a ser realizado em 20 de março.

EMBOLADO

Com a filiação do secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, ao PSDB, dois dias depois do aceno a Doria, o governador fez um gesto para, segundo um tucano, acalmar os ânimos do PSDB.

Até então, o secretário era o nome preferido de Alckmin para 2016, mas as seguidas pautas negativas ligadas à segurança fizeram o governador colocar o pé no freio.

Nesta semana, tucanos fizeram circular possibilidade de Fernando Capez, presidente do Legislativo paulista, ser candidato. O deputado, entretanto, diz nos bastidores que não está disposto a entrar na briga e que apoia João Doria.


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