Folha de S. Paulo


Com boato de operação, Cunha já estava acordado quando PF chegou

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não acreditava até o final de semana na possibilidade de que fosse deflagrada uma nova fase da Operação Lava Jato contra ele. A aposta do peemedebista era que a Polícia Federal cumpriria mandados de busca e apreensão no Paraná, que teriam petistas como alvo.

Na noite de segunda-feira (14), no entanto, chegaram boatos a aliados do presidente da Casa Legislativa de que a nova fase, deflagrada nesta terça-feira (15), seria na verdade em Brasília e que poderia envolver o peemedebista. Com os rumores, Cunha já estava acordado nesta terça quando a Polícia Federal chegou por volta das 6h à residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, em Brasília.

Segundo relatos de aliados e correligionários, ele foi avisado da presença das forças policiais por um segurança da residência oficial. O peemedebista pediu um tempo para se vestir e autorizou a entrada da Polícia Federal.

"Eles foram muito educados", disse o deputado.

Em almoço com líderes da base aliada, Cunha acusou o o Palácio do Planalto de estar por trás da nova fase da Operação Lava Jato e disse que o governo federal agiu com revanchismo por conta do acolhimento do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O peemedebista ameaçou ainda retaliar o governo em votações futuras na Câmara e avaliou que não foi coincidência o fato da operação policial ter sido realizado no mesmo dia da reunião do Conselho de Ética, que determinou o prosseguimento do processo de cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar.

'FRIO'

Mesmo os aliados mais próximos relatam ter dificuldade para "medir a temperatura" de Cunha no dia em que o presidente da Câmara dos Deputados viu sua residência oficial ser alvo de busca e apreensão.

Um dos participantes do almoço desta segunda-feira (15) disse que Cunha "é gelado" e que "não muda nada em sua fisionomia ao tratar do assunto".

Ainda de acordo com relatos de deputados federais, ninguém ousou perguntar durante o almoço se o peemedebista renunciaria ao cargo. Mas Cunha fez questão de ele mesmo colocar um ponto final em qualquer suposição: "Não cogito renunciar", sentenciou.

Em nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (15), a Polícia Federal mira os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Fernando Bezerra (PSB-PE).

Outros dois inquéritos que também foram alvo das ações desta terça ainda são sigilosos. Ao todo, 53 mandados de busca e apreensão foram emitidos para endereços de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Pará, Ceará e Alagoas.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, são nove os políticos com foro privilegiado alvo desta operação.

Foram emitidos mandados de busca e apreensão que atingiram inclusive imóveis de Cunha, incluindo endereços no Rio, sua residência oficial em Brasília e a diretoria-geral da Câmara, órgão responsável por fechar contratos e ordenar despesas. Três celulares de Cunha foram apreendidos. Ministros também tiveram buscas em seus endereços.

Os policiais foram autorizados a acessar dados de computadores, smartphones, celulares em geral, tablets e outros dispositivos eletrônicos e a apreender aparelhos eletrônicos, anotações, registros contábeis e comunicações realizadas entre os investigados.


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