O produtor de vídeo Giovani Favieri, citado pelo pecuarista José Carlos Bumlai como tendo participado de reuniões que resultaram no empréstimo de R$ 12 milhões, contou em entrevista à Folha que recebeu um valor entre R$ 500 mil e R$ 600 mil do caixa dois do PDT em 2004.
Naquele ano, a empresa de Favieri, a produtora de vídeo VBC, prestou serviços à campanha de Dr. Hélio (PDT), candidato que era apoiado pelo PT no segundo turno.
A campanha era dirigida por João Santana, o mesmo marqueteiro que atuou nas eleições de Lula e Dilma Rousseff.
"Foram R$ 550 mil declarados [à Justiça eleitoral] e R$ 500 mil, R$ 600 mil por fora. É óbvio que parte do pagamento foi feito no caixa dois. Naquela época, não havia tanta preocupação com isso. Caixa dois era quase uma contravenção", diz, referindo-se a um crime menor.
Outro sócio da produtora, Armando Peralta Barbosa, também foi citado por Bumlai como participante das reuniões que trataram do empréstimo de R$ 12 milhões.
Favieri diz não saber até hoje de onde veio o dinheiro que recebeu, mas afirma suspeitar que a operação com o Banco Schahin pode estar por trás do recebimento.
"Eu soube que estava sendo feita uma operação para pagar a dívida de campanha, mas não conheço detalhes. Os rumores que a gente ouvia era que o Bumlai teria ajudado o dr. Hélio. Fiquei sabendo que o banco poderia ajudar a pagar a dívida, mas não sei como ele poderia fazer isso", afirma.
O produtor, porém, diz não saber se o PT estava por trás da operação com o banco.
SEM REUNIÃO
Favieri nega, no entanto, que tenha participado de uma reunião com Delúbio Soares para acertar em 2004 o empréstimo de R$ 12 milhões que seria usado para liquidar a dívida, como relata Bumlai em depoimento à PF nesta segunda (14).
Ele diz que esteve várias vezes no Banco Schahin mas nunca participou de encontros em que era discutido o empréstimo de R$ 12 milhões.
O produtor afirma que ficou tão desiludido como o modo de fazer campanhas que hoje mudou de ramo em 2008: tem uma locadora de equipamentos vídeo. "É para não correr riscos. Porque fazer campanha política virou uma profissão de risco".
A atuação na campanha em Campinas, de acordo com Favieri, resultou em prejuízo para seus negócios. Uma parte dos serviços, no valor de R$ 200 mil, não foi paga, ainda segundo ele.
CASSADO
Dr. Hélio foi eleito duas vezes para a prefeitura de Campinas, em 2008 e 2008, sempre com o apoio do então presidente da República, Lula.
Em 2011, ele foi cassado pela Câmara dos Vereadores, por 32 votos a 1, sob acusação de fraude e negligência em contratos públicos.
A mulher do então prefeito, Rosely Nassim dos Santos, foi condenada no início deste mês a 20 anos de prisão por fraude em licitações, corrupção e desvios de recursos públicos num caso conhecido como Sanasa, a empresa de saneamento da cidade. O ex-vice prefeito, Demétro Vilagra (PT), pegou 13 anos de prisão. Bumlai chegou a ser investigado, mas foi excluído do rol de suspeitos.
OUTRO LADO
Ex-prefeito de Campinas e hoje presidente do diretório do PDT em Campinas, Dr. Hélio, nega que tenha usado recursos ilegais em sua campanha de 2004. "Todas as doações advindas de partidos, pessoas jurídicas e físicas para o pleito foram oficiais, mediante emissão de recibos e informadas à Justiça eleitoral, que, por sua vez, julgou plenamente regulares as contas prestadas", afirma em nota.
Ele afirma ainda que Bumlai nunca fez doações às campanhas do PDT de 2004 e 2008.