Folha de S. Paulo


Crise incomoda, mas vai deixar o Brasil mais forte, diz Lula na Espanha

Zipi - 10.dez.15/Efe
O ex-presidente Lula conversa com o rei Felipe VI, da Espanha, durante encontro na quinta-feira (10)
O ex-presidente Lula conversa com o rei Felipe VI, da Espanha, durante encontro na quinta-feira (10)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (11) em Madri que a crise brasileira "é um processo que vai terminar tendo o Brasil mais forte".

"Incomoda, mas termina produzindo efeitos positivos para o Brasil", disse.

Entre as consequências, citou o fortalecimento dos mecanismos de combate à corrupção. "Todas as pessoas têm que fazer as coisas corretas. Se não fizerem, terão que ser investigadas."

Lula participava de um seminário organizado pelo jornal espanhol "El País" sobre os desafios das nações emergentes. Um dia antes, governadores do Nordeste haviam falado sobre oportunidades de investimento na região.

Entre os fatores envolvidos na atual crise, Lula destacou a contradição entre a campanha eleitoral do PT e as decisões tomadas por Dilma Rousseff após reeleita. Especificamente, ele citou os ajustes fiscais.

"A nossa candidata [Dilma] dizia que ajuste era coisa dos tucanos."

"Se adotarmos a política de cortar, cortar, cortar, vai chegar um dia em que vai melhorar mesmo. Mas os coitados que subiram dois degraus não podem descer dois degraus", disse.

Lula, no entanto, elogiou a atual governante. "Dilma é uma mulher de muito caráter. É um luxo para o Brasil ter uma presidente da qualidade da Dilma."

Apesar da preocupação em relação ao cenário atual, Lula mostrou-se positivo. "Quando tomei posse, o Brasil estava numa crise infinitamente pior. Era um país sem credibilidade. Quem salvou o país foram os pobres."

"Se tem uma febre, não vai jogar fora a criança. Vai cuidar da febre", disse.

Ele comparou a crise brasileira com sua própria trajetória, em que obstáculos foram superados. "Tive 67 anos de saúde total. Um belo dia descobri que tinha um câncer. Mas estou aqui, inteiro."

Sobre os pedidos de impeachment de Dilma, Lula afirmou que são um "atentado moral ao estado de direito".

EMERGENTES

O ex-presidente brasileiro participou do evento em Madri ao lado de Felipe González, ex-premiê espanhol, e Juan Luis Cebrián, presidente do "El País".

O seminário também contou com uma mesa redonda sobre o impacto da crise nos países emergentes, com a participação do economista Emilio Ontiveros.

Lula chegou a Madri na quinta-feira (10) e, durante a tarde, reuniu-se com o rei Felipe em seu palácio. Ele posou para fotos, na ocasião, mas não falou com a imprensa. O encontro com o rei aconteceu a portas fechadas.

O Brasil é um dos principais destinos do investimento espanhol, razão pela qual a crise política e econômica brasileira é de interesse local. "Quem quiser investir no Brasil, o momento é agora", disse Lula.

Recentemente passaram por Madri o vice-presidente Michel Temer, em abril, e o ministro da Fazenda Joaquim Levy, em setembro.

Para Núria Mas, professora de economia da IESE Business School, o Brasil é –entre os emergentes– "talvez o que hoje preocupe mais". Um dos desafios do país, afirmou, é investir na educação, para além do combate à pobreza.

O ex-presidente encerra no sábado (12) a viagem, que incluiu uma passagem pela Alemanha, e retorna ao Brasil.


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