Folha de S. Paulo


'Dilma nunca confiou em mim', diz vice-presidente Temer a aliados

Pedro Ladeira - 24.nov.2015/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer em cerimônia em Brasília
A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer em cerimônia em Brasília

"Ela nunca confiou em mim." Foi essa a reação, em conversa com amigos neste domingo (6), do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) às declarações da presidente Dilma Rousseff de que espera "integral confiança" do peemedebista durante a tramitação do processo de impeachment contra ela.

Desde a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar o pedido de afastamento da petista, Temer evitou dar declarações públicas em defesa de Dilma, o que gerou reclamações do governo federal e até desentendimentos entre os dois lados.

No sábado (5), em viagem a Pernambuco, a presidente afirmou: "Espero integral confiança do Michel Temer e tenho certeza que ele a dará. Conheço o Temer como político, como pessoa e como grande constitucionalista".

O comentário foi visto pela equipe do vice-presidente como mais uma cobrança pública de apoio do peemedebista e, principalmente, de condenação aos argumentos jurídicos do processo de impeachment usados pelos partidos de oposição. Na semana passada, ministros petistas trabalharam para constranger o vice a se solidarizar publicamente com a petista.

A desconfiança do peemedebista, de que o governo federal busca constrangê-lo a se engajar na defesa da presidente, é confirmada nas reclamações de bastidores de assessores presidenciais.

No domingo, esses assessores faziam a seguinte avaliação: Temer, como jurista, sabe que juridicamente o pedido de impeachment é insustentável. Ele poderia condená-lo, mas não o faz porque está de olho no lugar da presidente.

O Planalto enxerga pelo menos um lado positivo na postura de Temer e do PMDB. A de que eles, ao "irem com muita sede ao pote", podem gerar uma rede de solidariedade à presidente por parte de outros partidos e até de setores da sociedade. Isso, segundo um assessor, será explorado pelo governo na estratégia de defesa de Dilma.

UNIFICAÇÃO

Na conversa com interlocutores, Temer disse que não cabe a ele fazer oposição à presidente nem liderar movimentos para tirá-la do Palácio do Planalto, mas não demonstrou nenhuma disposição em responder a seus apelos. "Por que agora ela quer minha confiança?", indagou o vice.

Para aliados, Temer não pode nem virar advogado de defesa nem de condenação da presidente, tem de seguir defendendo uma saída que leve à unificação do país.

Em suas conversas neste domingo (7), o vice-presidente afirmou que a presidente deveria assumir esse papel de pacificação nacional, fazer gestos nesse sentido, no que os dois estariam de acordo, mas até aqui ela tem preferido partir para o confronto.

O peemedebista voltou a ser aconselhado a atuar como observador e de voltar a submergir, como fez em setembro depois de afirmar que seria difícil a presidente petista concluir o mandato se seguisse com popularidade tão baixa. O vice está preocupado com as repercussões de seu posicionamento, que estariam passando a imagem de que ele estaria "conspirando".

Um interlocutor diz que Temer não pode impedir que amigos defensores do afastamento da petista façam suas articulações, mas ele pessoalmente não pode, nem vai comandar nenhuma operação neste sentido.

Temer, nesta segunda-feira (7), não participará da reunião de coordenação política com a presidente. Estará em São Paulo, onde vai se encontrar novamente com o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), em um evento do Grupo Lide.

Os dois já estiveram juntos no sábado (5), na casa de um amigo comum. Nos bastidores, líderes tucanos admitem que não poderão "se furtar" a apoiar um eventual governo Temer, caso a presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo.

Na noite deste domingo (6), Temer se reuniu com integrantes do PC do B em São Paulo.


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