Folha de S. Paulo


Dilma tem 'pressa' para votar impeachment, diz Jaques Wagner

O ministro Jaques Wagner (Casa Civil) afirmou nesta quinta-feira (3) que a presidente Dilma Rousseff "está com pressa" para votar o processo de impeachment no plenário da Câmara dos Deputados e disse não ser "razoável" que haja recesso no Congresso durante a tramitação de uma ação como essa.

Segundo o ministro, Dilma quer liquidar com o tema do possível afastamento para que o país possa entrar na rota do desenvolvimento e sair da crise.

"Dilma está com pressa e a pressa dela é, inclusive, a pressa da preocupação com o país. Precisamos vencer essa pré-pauta [impeachment] para que a gente entre na pauta do desenvolvimento", disse Wagner após participar de reunião com a presidente no Palácio do Planalto. "Agora que a faca foi puxada, as coisas vão ficar mais claras", concluiu.

Desde o início da manhã desta quinta, o governo deflagrou uma operação para orientar ministros e parlamentares de sua base aliada no Congresso a tentar um desfecho rápido para o processo de impeachment –linha que deve ser adotada caso fracassem as diversas ações que o Planalto preparou para encaminhar ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a suspensão do pedido de afastamento de Dilma.

Prazos Tramitação
Nesta quinta (3) Pedido de impeachment é lido no plenário
Na segunda (7) Partidos indicam integrantes da comissão especial, que terá entre 17 e 66 membros
Na terça (8) Comissão decide quem será relator e quem será presidente
Em até 10 sessões Dilma apresenta sua defesa
Em até 5 sessões Comissão elabora parecer pela abertura ou pelo arquivamento do pedido de impeachment
Em até 48 horas Parecer da comissão vai ao plenário da Câmara
Período de recesso do Congresso 23 de dezembro a 1º de fevereiro

"Não abrimos mão da legalidade mesmo reconhecendo que o embate final será o embate político no plenário [na Câmara]", afirmou Wagner.

O ministro da Casa Civil reconheceu que a presidente pode, ela mesma, convocar sessões no Legislativo durante o período de recesso, que está marcado para ter início no dia 23 de dezembro, mas ponderou que Dilma prefere que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aceitou seu pedido de impeachment, e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidam sobre o calendário.

"Ela pode convocar, obviamente, mas prefere que eles decidam. Até porque, aberto esse processo, não me parece razoável que o Parlamento se desligue", disse Wagner.

O ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) adotou a mesma linha nesta quinta de manhã, ao se reunir com os líderes da base na Câmara.

Durante a reunião, Berzoini pediu celeridade ao processo sob a avaliação de que uma extensão do caso até os primeiros meses de 2016, além de representar "sangramento em praça pública", pode dar margem ao crescimento de movimentos de rua contrários a Dilma e, inclusive, de dissidências dentro da base aliada.

'PECADO INICIAL'

Segundo a Folha apurou, a estratégia do governo é apressar a votação para que a ideia de "retaliação" que, nas palavras de um auxiliar de Dilma, foi o "pecado inicial de Cunha", não fique ultrapassada e possa ser utilizada contra o peemedebista durante o trâmite do processo.

O Planalto vai insistir na tese de que Cunha não tem legitimidade para abrir o processo de impedimento contra Dilma e que se utilizou do cargo de presidente da Câmara para obstruir processos e conseguir privilégios.


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