Folha de S. Paulo


'Perplexa' com prisão de Delcídio, Dilma diz que não teme delação

Dilma

A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (30), em Paris, que ficou "perplexa, extremamente perplexa" com a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) na última semana, sob suspeita de atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e que não teme uma eventual delação premiada do parlamentar.

"Fiquei perplexa, extremamente perplexa. Eu não esperava que isso acontecesse, ninguém esperava", afirmou quando questionada pela Folha nos corredores da conferência sobre o clima COP21.

"Não tenho nenhum temor em relação a uma delação do senador Delcídio", afirmou depois, durante entrevista coletiva. "O senador era de fato uma pessoa bastante bem relacionada no Senado. Nós o escolhemos porque tinha relações com todos os partidos, inclusive com os da oposição."

Foi a primeira vez que Dilma comentou a prisão dele, que até a semana passada era líder do governo do Senado.

A jornalistas, a presidente ainda negou ter indicado Nestor Cerveró, preso na Operação Lava Jato, para o cargo de diretor da área Internacional da Petrobras. Em depoimento à Polícia Federal, Delcídio disse que a escolha de Cerveró, em 2003 passou pela presidente, quando ela era ministra de Minas e Energia do governo Lula.

Acusado de desviar recursos da estatal, o ex-diretor fechou recentemente um acordo de delação premiada.

"Não indiquei o Nestor Cerveró. Eu acho que o senador Delcídio se equivoca", afirmou Dilma, em resposta a uma pergunta da Folha. "Ele [Cerveró] não é da minha indicação, da minha relação, isso é público e notório."

A presidente também repudiou a versão de que, segundo Cerversó, ela saberia de tudo sobre as supostas irregularidades na negociação de compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

"É uma forma de tentar confundir as coisas. Não só eu não sabia disso que, quando foi detectado que ele [Cerveró] não tinha dado todos os elementos para nós, fui a pessoa que insistiu para ele sair. Não tenho relação com Nestor Cerveró, e acho que ele pode não gostar de mim", declarou Dilma.

A petista buscou manter um tom de distância de André Esteves, do BTG Pactual, apontado como integrante do esquema. "Eu o conheci muito pouco. Não tive relações sistemáticas com ele. O conheci em fóruns, lembro dele em Davos", disse.

Sobre o risco de uma abertura de processo de impeachment contra ela no curto prazo, a presidente afirmou: "A ameaça vem sendo sistematicamente feita, inclusive com o endosso até pouco tempo atrás da oposição"

AJUSTE FISCAL

Apesar do tom de otimismo em relação a aprovação do pacote fiscal pelo Congresso até o fim do ano, Dilma destacou que o governo "tomará as medidas necessárias" caso isso não ocorra. "Não vou dizer o que vamos fazer porque estamos em processo permanente de avaliação e acreditamos que o Senado e a Câmara vão aprovar essas medidas". Indagada sobre se haveria um "plano B" ao ajuste fiscal, Dilma negou.

As declarações foram feitas minutos antes de Dilma passar por uma saia-justa na COP21. Após participar de um evento com alguns líderes numa área mais afastada do local da conferência, entre eles o presidente americano Barack Obama, a presidente foi impedida de caminhar de volta para o saguão principal da conferência.

Um funcionário barrou Dilma e se recusou a abrir o portão para sua comitiva. Incomodada com o episódio, ela passou alguns minutos ao ar livre até chegar um ônibus que levasse de volta ao centro da conferência sua comitiva e o grupo de jornalistas, entre eles a reportagem da Folha, que a acompanhava na reunião.

Leandro Colon/Folhapress
: Dilma Rousseff em ônibus após encontro com líderes em conferência do clima em ParisCrédito: Leandro Colon/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff em ônibus da conferência do clima em Paris

PRISÃO

Ex-líder do governo no Senado, Delcídio foi preso na última quarta-feira (25) após ser flagrado negociando o pagamento de uma mesada de R$ 50 mil para o ex-diretor Nestor Cerveró, preso na Operação Lava Jato, não envolvê-lo em sua delação premiada. Nas gravações das negociações, entregues aos investigadores por Bernardo Cerveró, filho de Nestor, o senador ainda discutia estratégias para fazer lobby pela soltura de Cerveró no Supremo Tribunal Federal e até um plano de fuga.

O assessor do petista, Diogo Ferreira, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, e o banqueiro André Esteves –suposto financiador da mesada e da fuga– também foram presos.

A Procuradoria-Geral da República agora investiga indícios de que Delcídio também teria tentado influenciar a delação premiada de Fernando Baiano, operador ligado ao PMDB.

Nesta segunda, o presidente do PT, Rui Falcão,voltou a criticar o senador petista que, segundo ele, traiu o partido e o governo de Dilma Rousseff.


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