Folha de S. Paulo


Folha revelou em 1987 concorrência fraudulenta em obras de ferrovia

Folhapress
Fac-símile de edição da Folha de 13 de maio de 1987 traz reportagem sobre a ferrovia Norte-Sul
Fac-símile de edição da Folha de 13 de maio de 1987 traz reportagem sobre a ferrovia Norte-Sul

Mega obra que se arrasta desde 1980, a ferrovia Norte-Sul teve irregularidades apontadas ainda em 1987, quando o colunista da Folha Janio de Freitas denunciou acerto prévio entre empreiteiras.

Os escolhidos para os 18 lotes da obra foram divulgados pelo jornal, horas antes da abertura da concorrência, em um anúncio cifrado que trazia as iniciais dos trechos e das empreiteiras. Entre elas estavam empreiteiras hoje investigadas na Operação Lava Jato, como Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Mendes Jr.

No caso da Andrade, a empreiteira, após topar pagar a maior multa da Lava Jato –cerca de R$ 1 bilhão–, recentemente acertou acordo de delação e leniência com a Procuradoria-Geral da República e com a força-tarefa que atua em Curitiba no qual irá relatar que pagou propina na ferrovia, na usina nuclear Angra 3 e em obras da Copa do Mundo e da Petrobras.

Quatro dias depois de a Folha ter veiculado o anúncio em que revelava o resultado da concorrência, a Valec, estatal que cuida de ferroviais, e o Ministério dos Transportes anunciaram os vencedores –todos ofereceram exatamente o mesmo desconto, de 10%, sobre o valor das obras, orçadas no que equivaleria hoje a R$ 21,1 bilhões.

Os lotes, entre os Estados de Goiânia e Maranhão, representavam mais da metade dos 1.560 quilômetros da ferrovia.

O caso ocorreu durante o governo do presidente José Sarney (PMDB).

À época, o diretor da Valec admitiu cartelização, dizendo ser "impossível" evitá-la.


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