Folha de S. Paulo


PF prende pecuarista amigo de Lula em nova fase da Lava Jato

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 24-11-2015, 09h00: O pecuarista Jose Carlos Bumlai, amigo do ex presidente Lula, é conduzido até o avião da PF, no hangar da corporação. Ele foi preso na operação Lava Jato hoje pela manhã no hotel onde estava hospedado em Brasília e será transferido para Curitiba. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, é levado ao avião da PF após ser preso em Brasília

A Polícia Federal iniciou na manhã desta terça-feira (24) a 21ª fase da Operação Lava Jato. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso em um hotel de Brasília. Ele iria depor nesta tarde na CPI do BNDES.

Bumlai, que já foi um dos maiores criadores de gado do país, tornou-se alvo das investigações da Lava Jato depois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ajudado a quitar dívidas do PT, o que ele nega ter feito.

Ao menos dois filhos de Bumlai, Maurício, Guilherme, além de Cristiane, nora do empresário, foram levados à PF de Brasília, em condução coercitiva, para prestarem depoimento nesta terça. O Ministério Público Federal havia pedido a prisão temporária dos três, o que foi negado pela Justiça.

O advogado do pecuarista, Arnaldo Malheiros Filho, disse que ainda não sabe as acusações contra seu cliente e que, portanto, não poderia comentar a ação.

O juiz federal Sergio Moro autorizou uma diligência de busca e apreensão na Tinto Holding –de Natalino Bertin e Silmar Roberto Bertin, ex-sócios do frigorífico Bertin– para coleta de provas relativas à prática pelos investigados dos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e de falsidade, além dos crimes antecedentes à lavagem de dinheiro.

Natalino e Silmar foram levados para prestar depoimento.

A secretaria da CPI foi comunicada pela 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelas investigações da Lava Jato, sobre prisão de Bumlai e que, por isso, ele não poderia comparecer ao depoimento. Outra data deve ser marcada posteriormente.

Segundo as primeiras informações, ele estava bastante tranquilo durante a ação da PF que ocorreu no hotel Golden Tulip, localizado a poucos metros do Palácio da Alvorada. Bumlai foi levado para o aeroporto de Brasília, de onde seguiu em uma aeronave da PF para a Superintendência de Curitiba (PR).

No hotel em Brasília, os agentes da PF chegaram a procurar documentos do empresário. Entre os mandados, também estão buscas em escritórios de Bumlai.

A PF ainda esteve na sede do BNDES no Rio. Pediu contratos pontuais e já saiu do banco com todos eles.

A operação desta terça, chamada de Passe Livre –referência ao bom trânsito que Bumlai tinha no Palácio do Planalto na época do governo do presidente Lula–, ocorreu nas cidades de São Paulo, Lins, Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande, Dourados (MS) e Brasília. Escritórios de Bumlai estão entre os alvos da ação.

Lava Jato, 21 ª Fase - Operação Passe Livre -

NAVIO-SONDA

Segundo a PF, as investigações da nova fase têm como foco a contratação de um navio-sonda da Petrobras "com concretos indícios de fraude no procedimento licitatório".

"Complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a a agentes públicos e diretores da estatal", de acordo com a polícia.

O empresário foi descrito pelo delator da Operação Lava Jato Fernando Soares, o Baiano, como uma espécie de lobista na Sete Brasil, empresa que administra o aluguel de sondas para a Petrobras no pré-sal. Em depoimento, Baiano disse que em 2011 era representante da empresa OSX, de Eike Batista, que tentava obter contratos na Sete Brasil.

Eike nega que Baiano e Bumlai tivessem vínculo com empresas de seu grupo.

O delator afirmou, em depoimento à PF, que Bumlai recebia propina para mediar negócios no setor de petróleo. Baiano, de acordo com o documento, procurou ajuda do pecuarista porque soube que ele tinha proximidade com o ex-ministro Antonio Palocci.

Bumlai, em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo", afirmou que levou o presidente da Sete Brasil a um encontro com Lula, mas negou ter providenciado benefícios a parentes dele.

O pecuarista ainda repetiu a versão, revelada pela Folha, de que os recursos que recebeu do lobista Fernando Soares eram referentes a um empréstimo, sem contrato assinado e jamais saldado, pedido ao lobista para quitar dívidas com trabalhadores de suas terras.

DÍVIDA

Ele ainda nega ter intermediado o pagamento de uma dívida do PT com o Banco Schahin, como descrito Salim Schahin, também delator na investigação, citando relatos de executivos do grupo.

O novo delator diz que perdoou um empréstimo de R$ 12 milhões que havia feito ao pecuarista em 2004 em troca de um contrato de R$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Bumlai teria intermediado o negócio. O valor não pago ao banco foi para o PT, na narrativa do delator.

O empréstimo foi feito pelo Banco Schahin, mas não foi quitado. Para compensar a dívida, Bumlai teria ajudado o grupo a conseguir o contrato de um navio-sonda com a Petrobras. Outros dois delatores da Lava Jato (Fernando Soares e Eduardo Musa) contaram versão similar.

À Folha, Bumlai negou e disse ter como provar isso com documentos. A versão dele é que pegou emprestados R$ 12 milhões para comprar uma fazenda, o negócio não deu certo e o vendedor devolveu-lhe R$ 12,6 milhões em três anos.

Em entrevista, ele afirmou que esteve três vezes no gabinete de Lula quando ele foi presidente e que ajudou a mostrar a empresários que o petista não era "um monstro".

Em outubro, Lula comentou com colaboradores que Bumlai pode ter se aproveitado de sua amizade para obter vantagens financeiras.

O ex-presidente cogitou essa hipótese um dia depois de vir à tona o depoimento no qual Fernando Baiano afirma ter pago R$ 2 milhões a Bumlai para compra do apartamento de uma nora do ex-presidente.

Nas conversas com seus aliados, Lula negou que a negociação tenha ocorrido e reclamou de Bumlai, afirmando que, caso confirmada a versão de Baiano, o amigo teria se valido dessa intimidade para ganhar dinheiro.

SUSPEITOS

Os investigados na nova fase são suspeitos pela prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, fraude a licitação, falsidade ideológica e falsificação de documentos.

Os mandados estão sendo cumpridos por 140 policiais federais e 23 auditores fiscais.

Eurides Aok - 16.mai.10/Correio do Estado
CAMPO GRANDE, MS, BRASIL, 16-05-2010: O empresário José Carlos da Costa Marques Bumlai. (Foto: Eurides Aok/Correio do Estado) *** DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM ***
O pecuarista e amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai

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