Folha de S. Paulo


Lemann diz que polarização política trava avanço do país

Scott Olson - 9.jul.15/AFP
SUN VALLEY, ID - JULY 09: Jorge Lemann, Swiss-Brazilian banker, attends the Allen & Company Sun Valley Conference on July 9, 2015 in Sun Valley, Idaho. Many of the worlds wealthiest and most powerful business people from media, finance, and technology attend the annual week-long conference which is in its 33rd year. Scott Olson/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
O empresário Jorge Lemann, atualmente o homem mais rico do Brasil

O empresário Jorge Paulo Lemann, 76, criticou a polarização política no Brasil por travar o progresso do país e defendeu o diálogo entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso.

Principal acionista da AB InBev e homem mais rico do Brasil, com um patrimônio de R$ 83,7 bilhões segundo a revista "Forbes", o empresário conversou com a Folha em evento organizado pela Fundação Lemann, cujo conselho ele preside, na Universidade Columbia, em Nova York, nesta sexta-feira (20).

"O pessoal não se entende. Até Fernando Henrique e Lula. Eles foram amigos, já trabalharam juntos e aí ficou nessa ciumeira de o Lula querer ser Fernando Henrique e Fernando Henrique querer ser Lula", disse.

"Tem de se unir por algumas coisas, [dizer:] vamos conversar que é importante", avaliou o empresário.

Em meio a essa polarização, "o PMDB fica ali no meio", observou. "Acho que o PMDB vai saltar fora desse governo daqui a pouco. Aí que as coisas vão acontecer."

Lemann ponderou que discursos idealistas tampouco ajudam a construir soluções práticas. "Está cheio de gente no Brasil que acha que igualdade é uma beleza. Eu acho igualdade uma beleza também, só que não funciona. Igualdade de oportunidade, isso sim. Agora, igualdade por igualdade... As pessoas não são iguais."

Em discurso no evento, o empresário afirmou que "incomoda que, no Brasil, as pessoas sejam tão preocupadas sobre ser de direita e ser de esquerda". "Poucos falam sobre o que deveria ser feito, sobre o que é prático e o que pode ajudar o país", criticou.

MARINA SILVA

Antes dele, a ex-senadora Marina Silva (Rede) falou sobre a crise no Brasil e no mundo, em decorrência do que ela considera ser um desgaste de instituições e estruturas tradicionais da democracia.

"Eu ouvi a Marina nesta manhã e gostei do que ela falou sobre achar um novo jeito, mais objetivo, de sair da situação atual de briga entre direita e esquerda, que não resolve nada", declarou.
Lemann se disse "esperançoso", apesar da crise.

"Eu tenho 76 anos. Já passei por muitos problemas. No fim, as coisas se resolvem e tenho certeza que o Brasil vai conseguir superar desta vez", afirmou. "Pode haver um Brasil muito melhor, e vejo bons sinais. Há muito empreendedorismo acontecendo lá."

Lemann elogiou o trabalho do Ministério Público nas denúncias de escândalos de corrupção: "Eu gosto dos promotores públicos no Brasil que estão lidando com a corrupção. É um grupo pequeno de pessoas que tem um efeito multiplicador tremendo".

Ele contou que sua fundação levou o método de ensino de matemática da Khan Academy a 500 mil alunos em 500 escolas em todo o Brasil. Para ele, é importante investir na formação de professor, mas não dá para esperar "50 anos".

O empresário formalizou, nesta sexta, a inauguração do Centro Lemann para estudos sobre o Brasil em Columbia. Além de doação à universidade, a fundação oferece bolsas de estudos para brasileiros no exterior.


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