Folha de S. Paulo


Eike admite conhecer Baiano, mas diz que lobista nunca foi seu funcionário

Alan Marques/Folhapress
CPI do BNDES ouve o empresário Eike Batista, fundador do Grupo EBX, nesta terça-feira, em Brasília (DF)
CPI do BNDES ouve o empresário Eike Batista, fundador do Grupo EBX, nesta terça-feira, em Brasília

Durante seu depoimento à CPI do BNDES, o empresário Eike Batista admitiu conhecer o Fernando Baiano, delator da Operação Lava Jato, e disse que esteve com o lobista –que nos encontros atuava como representante de um grupo estrangeiro interessado em fazer obras no porto do Açu (RJ)– duas ou três vezes, mas afirmou que ele nunca foi seu funcionário.

"Ele não prestava serviço para a OSX [empresa de seu grupo]", resumiu.

Em delação premiada, Baiano teria falado que o pecuarista amigo do ex-presidente Lula José Carlos Bumlai e ele teriam feito lobby para que a Sete Brasil –estatal criada para contratar sondas do pré-sal– contratasse os estaleiros do grupo de Eike e que Lula teria ajudado a intermediar o negócio.

Eike afirmou que não soube de qualquer negociação e que esse negócio não se concretizou. Perguntado sobre como conheceu Baiano, Eike respondeu que não sabia.

"Sei que ele apareceu no escritório".

Sobre Bumlai, ele afirmou que o pecuarista também não teve vínculo seu grupo.

A Folha revelou no início do mês que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai.

Em nota, o BNDES informou que o banco "não deu qualquer tipo de tratamento privilegiado a empresa São Fernando ou ao empresário José Carlos Bumlai".

Segundo a nota, "Os procedimentos de análise do BNDES são técnicos e impessoais e, neste caso específico, diferentemente do que insinua o texto da Folha, não houve violação de norma do Banco para favorecer a empresa. A operação da São Fernando Energia era um financiamento indireto. Desta forma, a análise da operação e o risco de crédito foram assumidos pelos agentes financeiros, tanto público quanto privado".

BOBO

Durante a sessão, Eike teve um embate com o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) sobre os financiamentos ao grupo EBX, do qual é fundador.

O ex-mais rico do Brasil afirmou ser um "empresário diferente" por atrair recursos estrangeiros para o país e disse não depender de recursos públicos.

Quando soube que não haveria a quantidade de petróleo anunciada nos campos de exploração de empresa, o empresário afirma que não utilizou todo o empréstimo junto ao Fundo da Marinha Mercante –que auxilia, com recursos públicos, a construção de navios e plataformas–

Por isso, segundo Eike, os empréstimos que seu grupo tomou não geraram prejuízo nem ao Fundo nem ao BNDES.

"Tudo foi garantido por avais pessoais e meu capital próprio. O senhor pode me considerar bobo", disse o empresário. Jordy respondeu que não o considerava bobo.

"Eu fui otimista, achando que meus campos iam ter esse petróleo e era necessário construir meus próprios estaleiros e plataformas", completou o empresário.

Eike afirmou ainda que pretende, "nos próximos 10 dias", resolver todo o problema de suas dívidas, que seriam hoje de US$ 1 bilhão, e voltar ao mercado com "patrimônio possível".

"Depois de dois anos e meio, resolvi R$ 80 bilhões de dívidas com o sistema privado. Muito obrigado", disse o antigo homem mais rico do Brasil, agradecendo a ele mesmo.

Perguntado pelo deputado se ele era um fenômeno, Eike respondeu: "Eu sei" –o que causou riso dentre os demais presentes à sessão.

LULA

Eike admitiu ter contribuído com campanhas de grandes partidos políticos, mas afirmou que o fez por "acreditar a democracia".

Mas, após a derrocada nos negócios, o empresário afirmou que não caberia ao governo ajudar um "empresário bilionário em crise" e que a captação de recursos junto a bancos públicos foi feita quando não conhecia o ex-presidente Lula.

"Nunca nos metemos com política. Não faz parte da cultura da minha família, do meu pai. Quando começamos a falar com o governo, já era tarde", admitiu Eike, que admitiu ter pedido encomendas da Petrobras a seu estaleiro.


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