Folha de S. Paulo


Nova fase da Lava Jato visa 4 ex-funcionários da Petrobras

Um novo operador do esquema de corrupção da Petrobras e um ex-funcionário da estatal são as duas pessoas presas na Operação Corrosão, 20ª fase da Lava Jato, deflagrada na manhã desta segunda-feira (16) em cinco cidades de dois Estados (RJ e BA).

A nova fase se concentra na atuação de Nelson Martins Ribeiro, apontado como operador do esquema e preso temporariamente no Rio de Janeiro, e em desvios na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Também são alvos, para buscas e apreensões, endereços dos ex-funcionários da Petrobras Luis Carlos Moreira da Silva, ex-gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Área Internacional da companhia, Rafael Mauro Comino, ex-gerente de Inteligência de Mercado e ex-gerente de Negócios de Abastecimento da área Internacional, Cezar de Souza Tavares e Agosthilde Mônaco de Carvalho.

Comino, Silva e Tavares ainda foram convocados para prestar depoimentos, em conduções coercitivas, assim como os ex-funcionários da diretoria Internacional Carlos Roberto Martins Barbosa e Aurélio Oliveira Telles.

Também foram alvos da operação duas empresas ligadas a algumas das mesmas pessoas, a Cezar Tavares Consultores e a Moreira Dias Editora.

"Ou seja, são as pessoas responsáveis por, na prática, não deixar que um negócio como esse acontecesse", declarou o delegado Igor de Paula. Luis Carlos Moreira Silva, por exemplo, foi o principal consultor para a compra de Pasadena, segundo a PF.

Os nomes surgiram na Lava Jato durante os depoimentos do lobista Fernando Soares, o Baiano, em acordo de delação premiada, que os relacionou a pagamento de propina para a compra da refinaria americana, então pertencente à empresa Astra. A transação foi realizada na primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula Silva e gerou enorme contestação de diversos órgãos de controle, como o TCU (Tribunal de Contas da União).

Para o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, as investigações sobre Pasadena, que foram recentemente remetidas ao Paraná, podem inclusive gerar a anulação e o ressarcimento da compra pela Petrobras.

"Foi um péssimo negócio em que muitos se beneficiaram", declarou Lima em entrevista coletiva realizada de manhã em Curitiba.

Sobre o nome da nova fase, Operação Corrosão, o procurador disse: "Pasadena era chamada de 'ruivinha' pelos funcionários da Petrobras, justamente pelo excessivo nível de corrosão dos princípios institucionais da estatal".

OPERADOR DO PSDB

A petição do Ministério Público Federal entregue à Justiça Federal e que deu base à deflagração da Corrosão também cita como "operador" Gregorio Marin Preciado como relacionado à venda da refinaria. Contudo, a manifestação dos procuradores não fornece maiores detalhes sobre o papel de Preciado e também não desencadeou até o momento nenhuma ação contra ele, como pedido de busca e apreensão ou de condução coercitiva.

Preciado é casado com uma prima irmã do senador José Serra (PSDB-SP) e foi conselheiro do banco Banespa, além de ajudar em campanhas eleitorais do PSDB em São Paulo.

Segundo o Ministério Público, Baiano revelou em depoimento que US$ 15 milhões foram usados "para o pagamento de propina em favor" de seis funcionários da Petrobras. O dinheiro foi "primeiramente repassado pela Astra a partir da celebração de um contrato de consultoria fraudulento, no valor de US$ 15 milhões, firmado entre uma das empresas do grupo Astra Oil e a Iberbras (empresa em nome da qual Fernando Soares atuava como representante no Brasil)".

De acordo com os procuradores da República, Preciado aparece relacionado a um "segundo contrato de consultoria" providenciado por Fernando Soares, "firmado entre a Iberbras e a Three Lions, no qual, após descontado o percentual a ser pago ao também operador Gregório Marin Preciado, o valor restante foi disponibilizado a Fernando Soares, para que efetuasse a distribuição da propina, por meio de transferências internacionais realizadas a partir de sua conta Three Lions, localizada em Liechtenstein".

Conforme a Lava Jato, "dos US$ 15 milhões repassados pela Astra para o pagamento de propinas, Alberto Feilhaber recebeu para si a quantia de US$ 5 milhões, pagos a título de 'comissão' em razão de ter contribuído para que se concretizasse a aquisição da refinaria de Pasadena pela Petrobras".

CASA DE CÂMBIO

A atuação do novo operador, preso nesta segunda, também promete desdobramentos.

Antigo proprietário de uma casa de câmbio no Rio, Nelson Martins Ribeiro operou para vários funcionários da Petrobras, nas diretorias de Abastecimento e Internacional, principalmente por meio de contas no exterior, segundo a Procuradoria. Ele também intermediou o pagamento de cerca de US$ 5 milhões a Paulo Roberto Costa, segundo a PF.

O operador já foi investigado por lavagem de dinheiro no Rio de Janeiro, anos atrás. Para a PF, ele é "um Youssef de dez anos atrás", segundo o delegado Igor Romário de Paula. Ou seja, operava em várias frentes, para empresas e contraventores, e não especificamente para um partido.

A força-tarefa aguarda informações da Suíça sobre contas que Ribeiro mantinha naquele país, para identificar outros eventuais beneficiados do esquema.

SEGUNDO PRESO

Também foi preso temporariamente o ex-funcionário da Petrobras Roberto Gonçalves, ex-gerente executivo de engenharia na diretoria de Serviços, detido em Niterói. Gonçalves foi sucessor de Pedro Barusco na gerência, e é suspeito de também ter recebido propina do esquema.

Ele é investigado sob suspeita de irregularidades na compra de sondas e na obra da Comperj, refinaria do Rio de Janeiro -fatos que ainda estão em investigações iniciais pela força-tarefa da Lava Jato.

Os presos serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba ainda nesta segunda.

Na capital baiana, segundo a PF, foi cumprido um mandado de busca e apreensão e um de condução coercitiva. A pessoa conduzida já foi ouvida e liberada. Seu nome não foi divulgado.

OUTRO LADO

A defesa de Roberto Gonçalves afirmou não saber por que o ex-gerente foi preso.

"Todas as gerências de todas as diretorias participam de todos os contratos da Petrobras. E ele, como um técnico, participou tecnicamente de todos estes contratos. Mas ele não teve ingerência em todos esses contratos. Ainda não sabemos o motivo pelo qual ele foi preso. Os mandados são genéricos. Preciso ter acesso à denúncia para me pronunciar", afirmou seu advogado, James Walker Júnior.

A Folha não conseguiu localizar o advogado de Nelson Martins Ribeiro.

Procurados pela Folha nesta segunda-feira (16), Luis Carlos Moreira, Rafael Mauro Comino, Cezar de Souza Tavares e Gregorio Marin Preciado não foram localizados para falar sobre a Operação Lava Jato. Preciado foi procurado em dois telefones registrados em seu nome. Em um dos endereços, em Porto Seguro (BA), ninguém atendeu; no outro, em São Paulo, a pessoa que atendeu disse que o número estava em nome de Preciado, mas não o conhecia. Dois advogados que aparecem relacionados a Preciado em ações antigas na Justiça também não foram localizados.

Moreira, Comino e Tavares já haviam sido procurados pela Folha no último dia 19 de outubro, quando a reportagem teve acesso a um dos depoimentos do lobista Fernando Baiano que citava os três nomes. Segundo a página da Cezar Tavares Consultores na internet, os três atualmente trabalham na mesma firma no Rio. Naquele dia foi deixado um recado com a secretária da empresa, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

Agosthilde Mônaco de Carvalho assinou um acordo de delação premiada com a força tarefa da Lava Jato, assumindo ter recebido propina e feito uma operação de lavagem de dinheiro com dois doleiros do Uruguai, no valor de US$ 1,8 milhão.


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