Folha de S. Paulo


Receita quer quebrar sigilo de antiga cantina da filha de Gilberto Carvalho

Joel Rodrigues/Frame/Folhapress
Gilberto Carvalho discursa ao transmitir o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência a Miguel Rosseto, no Palácio do Planalto
Gilberto Carvalho em discurso no Palácio do Planalto

Em um relatório anexado ao inquérito da Operação Zelotes, a Coordenadoria de Investigação da Receita Federal recomendou a quebra dos sigilos fiscal e bancário de cinco empresas, dentre as quais um restaurante que pertenceu à filha de Gilberto Carvalho, ex-ministro da presidente Dilma Rousseff e ex-chefe de gabinete do ex-presidente Lula.

Os investigadores da força tarefa da Zelotes afirmam que Carvalho estava "em conluio" com o lobista Mauro Marcondes, preso na segunda (26) por suspeita de ter participado de negociações para a compra de uma medida provisória com benefícios fiscais ao setor automotivo.

A Receita propõe derrubar os sigilos da Cantina Sanfelice de 2008 a 2015, estabelecimento em Brasília que pertencia à filha de Carvalho e seu ex-marido. Segundo o ex-ministro, o restaurante quebrou e foi vendido, com dívidas de mais de R$ 1 milhão.

À Folha, o coordenador-geral de Pesquisa e Investigação da Receita, Gerson Schaan, defendeu a medida: "O ciclo do dinheiro não está fechado, então tem que ir atrás das possibilidades. Há elementos fortes de que houve pagamentos para a MP ser aprovada. A gente tem que indicar para quem foram esses pagamentos", afirmou.

Ele não soube informar se o Ministério Público Federal acolheu a recomendação ou se as quebras de sigilo foram autorizadas pela Justiça.

Questionado sobre o ex-ministro participar de negociatas relativas a medidas provisórias, Schaan afirmou que "isso faz parte da investigação". Lembrou que, embora investigado, Carvalho não foi alvo de prisão, condução coercitiva ou buscas.

"Na tramitação, uma medida provisória passa nas mãos de muita gente. A maior parte não faz ideia do que pode estar por trás daquele assunto, muitas vezes importante para o país, mas que tem problema na origem."

Como a PF chegou ao filho de Lula

POLÍTICOS

Sobre a eventual participação de parlamentares em negociações para venda de medidas provisórias, ele disse: "É uma possibilidade que tem que ser investigada".

No mesmo relatório em que recomenda as quebras de sigilos, a Receita apontou que a empresa LFT Marketing Esportivo, de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente, não tem funcionários. Ressalta que, apesar disso, a LFT, também alvo da Zelotes, recebeu R$ 1,5 milhão da Marcondes & Mautoni, da qual Mauro Marcondes era sócio.

"Tal constatação [...] aduz ao questionamento sobre que tipo de serviço foi prestado pela LFT à Marconi & Mautoni que motivou pagamento de tão grande quantia", indagaram os auditores no relatório.

Luis Cláudio diz que prestou serviços de marketing à M&M.

OUTRO LADO

O ex-ministro Gilberto Carvalho classificou como "um absurdo" a recomendação da Receita pela quebra dos sigilos do restaurante que foi de sua filha. Afirmou que já pôs à disposição da PF seus dados bancário, fiscal e telefônico.

"Absurdo pessoas agirem sem comprovação, envolvendo minha família, como fizeram com a família do Lula. Vão verificar que é uma empresa que quebrou", disse.

Em nota, o advogado de Luis Cláudio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, disse que protocolará junto ao Tribunal Regional Federal medida judicial questionando "as manifestas ilegalidades" na autorização de busca no escritório de seu cliente.


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