Folha de S. Paulo


À televisão americana, Dilma alerta para riscos à democracia no Brasil

A presidente Dilma Rousseff alertou em entrevista à rede de TV americana CNN que as tentativas de abrir um processo de impeachment contra ela colocam em risco a democracia brasileira e afirmou que um dos principais legados de seu governo será a reforma da previdência e o ajuste fiscal.

A presidente lamentou que o conflito das eleições do ano passado tenha continuado com a mesma intensidade após sua vitória, indicando falta de maturidade nas relações da oposição com o governo.

"Temos que ter muito cuidado com isso porque ainda temos uma democracia, eu diria, adolescente", disse Dilma na entrevista que foi ao ar neste domingo (25).

Apesar da alta temperatura da crise no Brasil, a CNN não teve pressa em exibir a entrevista. Ela ficou engavetada por um mês, após ser concedida ao apresentador Fareed Zakaria em Nova York, em 25 de setembro, durante a passagem da presidente pela cidade para participar da Assembléia Geral da ONU.

Jussi Nukari/Reuters
Dilma durante evento em Helsinque, na Finlândia; ela foi entrevistada pela rede americana CNN
Dilma durante evento em Helsinque, na Finlândia; ela foi entrevistada pela rede americana CNN

O programa de Zakaria é um dos mais prestigiados da CNN e por ele costumam passar algumas das mais altas autoridades americanas e mundiais. Antes de Dilma, a edição deste domingo teve entrevistas com Paul Wolfowitz, um dos arquitetos da guerra do Iraque, Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico, e Ben Bernanke, ex-presidente do Fed (banco central dos EUA).

Na introdução à entrevista, Zakaria descreveu um cenário de "várias crises" no Brasil e lembrou o declínio na imagem internacional do país,

"É um país extremamente importante, mas como caiu desde que era a primeira letra do Brics, o grupo de países emergentes em que os banqueiros depositavam grandes expectativas", observou o apresentador.

Zakaria começou perguntando sobre o passado de Dilma na luta contra a ditadura e os anos em que foi presa e torturada. A presidente respondeu que se considera parte da trajetória do Brasil da ditadura à democracia. E ressaltou que o importante é sair de experiências duras como a tortura "sem ódio".

A fisionomia de Dilma se fechou ao ser abordada sobre a economia. Questionada se a severa crise atual indicava que o Brasil havia desperdiçado a "oportunidade de ouro" oferecida quando o contexto internacional era mais favorável, com o boom das commodities, Dilma discordou.

"Não perdemos essa oportunidade. O maior valor que nós conquistamos nesse período foi transformar o Brasil numa economia de classe média com um grande mercado consumidor", disse Dilma, frisando que na última década 36 milhões de brasileiros saíram da pobreza e 40 milhões ascenderam à classe média.

A presidente afirmou que embora seja uma "experiência dolorosa", a crise deve ser usada para avançar as reformas da previdência e fiscal. Ela reiterou o seu compromisso com essas reformas, que pretende deixar como legado, pois serão "decisivas" para o próximo ciclo de crescimento.


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