A CPI da Petrobras aprovou, na madrugada desta quinta-feira (22), o parecer do relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que propõe o indiciamento de apenas um político envolvido no esquema de corrupção na estatal, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Ao fim, o texto passou com o apoio de 17 parlamentares, nove votos contrários e uma abstenção.
A menção ao nome de Vaccari, que não constava na versão original, foi incluída de última hora, a pedido do deputado André Moura (PSC-SE), um dos sub-relatores do colegiado. O dirigente petista está preso desde abril.
O documento assinado por Luiz Sérgio foi duramente criticado pelo PSOL e PSDB. Os dois partidos apresentaram votos em separado, espécie de relatório paralelo com conteúdo diferente do elaborado pelo relator.
"Houve na CPI um conchavo político de gente que não queria investigar os outros para evitar que os seus fossem investigados. É um acordão de governistas e oposicionistas", atacou o líder do PSOL, Ivan Valente (SP).
Vice-presidente da comissão, o tucano Antonio Imbassahy (BA) afirmou que o relatório de Luiz Sérgio deixou a digital do PT no "petrolão".
"A organização criminosa foi instalada na Petrobras sob comando do Palácio do Planalto, a partir do governo Luiz Inácio Lula da Silva, e ampliada no governo Dilma Rousseff", disse Imbassahy.
Pelo PMDB, o deputado Carlos Marun (MS) apresentou um parecer enxuto e, embora não tenha pedido indiciamentos, se manifestou favorável à inclusão do nome de autoridades citadas em depoimentos colhidos pela comissão.
Marun é aliado próximo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já denunciado por participação no esquema. Ele queixou-se do PSOL, cujo líder, Ivan Valente, insistiu na necessidade de a CPI mirar políticos, entre eles Cunha.
Outros integrantes do colegiado voltaram a bater nos trechos do relatório em que Luiz Sérgio atacou o andamento da Operação Lava Jato e falou em "excesso de delações premiadas".
"Tenho a consciência tranquila de que trabalhei dentro de uma ótica propositiva", defendeu-se o petista, que pediu o indiciamento de diversas pessoas, mas poupou políticos.
A reunião da CPI foi aberta às 15h30, mas suspensa duas horas depois. Os deputados só retomaram os trabalhos por voltas das 22h, após o encerramento das votações no plenário da Casa.
PLANO B
Antes da apreciação do texto final, o PSDB pleiteou a possibilidade de a CPI deliberar sobre os votos em separado, caso relatório original fosse rejeitado.
O presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), vetou o pedido por entender que o regimento interno da Câmara não dá margem a essa alternativa.
A decisão deu força à base aliada. Deputados governistas passaram a argumentar que seria melhor aprovar o parecer de Luiz Sérgio do que a CPI chegar ao fim sem relatório algum.
"Estamos sendo induzidos a votar nesse relatório porque, se não for assim, não há relatório", protestou Eliziane Gama (Rede-MA). Hugo Motta rebateu, dizendo que não se tratava de uma escolha da presidência, mas uma decisão técnica.
A última sessão da CPI da Petrobras na Câmara, iniciada em fevereiro, foi encerradas às 2h34 desta quinta.
VOTOS EM SEPARADO
O PSDB não pediu indiciamentos, apenas o aprofundamento das investigações à presidente Dilma, ao ex-presidente Lula e ao ministro Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social).
Também solicita abertura de inquéritos sobre eventuais participações dos ex-ministros Antonio Palocci, José Dirceu, Guido Mantega, Gilberto Carvalho e Ideli Salvatti.
Para os tucanos, esses oito petistas compunham o núcleo estratégico do esquema, por isso a necessidade de instauração de inquéritos civis e criminais.
O PSDB solicita ainda a abertura de apuração envolvendo outros 49 políticos, incluindo quase todos os parlamentares que já respondem a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), entre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A lista do partido não inclui os senadores tucanos Antonio Anastasia (MG) e Aloysio Nunes Ferreira (SP). No caso de Anastasia, a PGR (Procuradoria-geral da República) pediu o arquivamento do inquérito, mas a Polícia Federal quer a continuidade das investigações.
Aloysio é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por ter sido citado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC. O caso não tem ligação direta com a Lava Jato, mas há suspeita de caixa dois.
Já o documento do PSOL sugere o indiciamento de quatro políticos: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Arthur Lira (PP-AL) e os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Benedito de Lira (PP-AL), todos já denunciados ao Supremo.
Além deles, Valente pedia o indiciamento de aliados de Cunha, como a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), e o empresário Lucio Funaro, ligado ao presidente da Câmara.
O parlamentar paulista queria ainda a responsabilização criminal do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, e de pessoas próximas a Youssef, caso do ex-policial federal Jayme de Almeida e de Leonardo Meirelles.