Folha de S. Paulo


Dilma diz que país vive um clima de 'golpe democrático à paraguaia'

Alan Marques/Folhapress
A presidente Dilma comanda a primeira reunião com novos ministros, que tomaram posse
A presidente Dilma comanda a primeira reunião com novos ministros, que tomaram posse

Na primeira reunião ministerial com sua nova equipe, a presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta (8) que está em curso no país um "golpe democrático à paraguaia", mas fez questão de destacar, logo em seguida, que o Brasil não é o Paraguai.

O comentário foi feito no encerramento da reunião, fechada à imprensa, realizada na semana em que o governo sofreu duas derrotas em tribunais que podem pôr em risco o segundo mandato de Dilma. Num gesto com os dedos, ela indicou que a expressão "golpe democrático", deveria ser entendida entre aspas, como uma ironia.

Nos últimos dias, o TCU (Tribunal de Contas da União) rejeitou as contas da presidente em 2014 e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) abriu investigação sobre supostas irregularidades na campanha presidencial de Dilma Rousseff.

Segundo relato feito à Folha por três ministros, ao finalizar a reunião ministerial, Dilma procurou demonstrar que não se abateu com as últimas derrotas e fez o comentário de que está em movimento no país um "golpe democrático" à paraguaia.

Em seguida, elevando o tom de sua fala final, a presidente afirmou: "Só que o Brasil não é o Paraguai, temos instituições fortes".

Em 2012, o então presidente paraguaio Fernando Lugo sofreu um processo de impeachment por "mau desempenho de suas funções" e foi substituído pelo vice Federico Franco, que estava rompido com ele.

Na época, países da América do Sul disseram que houve uma "ruptura da ordem democrática" no Paraguai e decidiram suspender o país temporariamente do Mercosul e da Unasul (União das Nações Sul-americanas). A proposta de suspensão partiu, inclusive, de Dilma.

Durante a reunião desta quinta, a petista cobrou sua equipe para reverter no Congresso a reprovação das contas relativas a 2014 e pediu que os ministros do PMDB façam reuniões semanais com a bancada do partido na Câmara, em uma tentativa de recompor a base aliada.

Escalado para falar com a imprensa depois do encontro, o novo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que o governo acompanhará com atenção a movimentação da oposição em relação a um eventual processo de impeachment e ressaltou que ele não pode ser tratado como "instrumento de disputa política". "Querem dar consistência artificial a um processo como esse", disse.

Ele afirmou ainda que a presidente encarou com responsabilidade a rejeição das contas pelo TCU e entende que agora a resposta do governo deve ser feita na CMO (Comissão Mista de Orçamento), a quem caberá julgar o parecer do TCU.

"Evidentemente que a presidente preferia que a análise do TCU terminasse de outra forma", disse.

Durante a reunião, o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) reclamou que acordos feitos para atender aliados, como nomeação para cargos e liberação de emendas, precisam ser cumpridos e que a demora nesse processo contribuiu para as derrotas sofridas nesta semana, quando o governo não conseguiu quorum para manter vetos presidenciais.

Penúltimo a falar, antes de Dilma, o vice-presidente Michel Temer disse que apoiava as reclamações de Berzoini, lembrando que, durante o período que esteve na articulação política, sofreu com o mesmo problema.

PEDALADAS

Um dos motivos para Temer se afastar do posto de articulador político foi o que seu grupo classificou de boicote por parte de petistas, que não cumpriam acordos com governistas feitos por ele.

Na reunião, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, sugeriu que cada ministro tenha uma cartilha de perguntas e respostas para fazer a defesa do Planalto em relação às pedaladas fiscais.

Jaques Wagner afirmou ainda que a presidente pediu atenção aos ministros para garantir a recomposição da base aliada no Congresso.


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