Folha de S. Paulo


E-mails indicam que Lula fez lobby para Odebrecht no exterior

E-mails trocados entre executivos do grupo Odebrecht indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu para defender interesses da empreiteira na África e na América Latina enquanto esteve à frente do governo.

As mensagens foram encontradas pela Polícia Federal em computadores da Odebrecht durante buscas realizadas pela Operação Lava Jato, que investiga a corrupção na Petrobras e em outras empresas estatais. O presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e outros executivos estão presos desde junho.

Em uma das trocas de mensagens, datada de 11 de fevereiro de 2009, o executivo da Odebrecht Marcos Wilson pede ajuda do então ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, durante um encontro entre Lula e o então presidente da Namíbia, Hifikepunye Pohamba, para fazer lobby a favor da empreiteira na construção da obra da hidrelétrica de Baynes, orçada em US$ 800 milhões.

A resposta do ministro de Lula veio poucas horas depois: "Estive e o PR fez o lobby. Aliás, o PR da Namíbia é quem começou –disse que será licitação, mas que torce muito para que os brasileiros ganhem, o que é meio caminho andado". PR, segundo a PF, seria Lula.

A hidrelétrica em questão seria construída na fronteira entre Angola e Namíbia. A Odebrecht buscava ganhar a obra em consórcio com Eletrobrás, Furnas e Engevix.

Após deixar a Presidência, Lula viajou para países da América Latina e da África onde a empreiteira tem negócios financiados com dinheiro do BNDES. As viagens foram pagas pela empreiteira.

A Procuradoria da República do Distrito Federal investiga se houve tráfico de influência nesses casos.

As mensagens descrevem como autoridades federais foram procuradas para tratar de obras em países como Angola, Colômbia, República Dominicana e Venezuela.

E-mails de maio e junho de 2011 relatam a visita do ex-presidente às obras do porto de Mariel, em Cuba. Num deles, um executivo sugere à secretária de Marcelo Odebrecht a compra de um presente para o ditador Raúl Castro e autoridades do regime cubano.

Em 2008, por exemplo, a empresa pediu ajuda a ministros sobre uma disputa com o governo do Equador, onde a Odebrecht tinha projetos e foi ameaçada de expulsão.

'D. TEREZINHA'

Muitos nomes citados nos e-mails são cifrados. Em outra série de mensagens, os executivos discutiam, em 2008, como influenciar o próximo ministro de Minas e Energia e evitar que o cargo fosse ocupado por alguém que contrariasse a empreiteira.

Um deles afirma que não adiantaria contatar o "seminarista", que, de acordo com o relatório da PF, seria o ex-ministro Gilberto Carvalho.

Em e-mail endereçados a Marcelo Odebrecht, um executivo minimiza o poder do novo titular da pasta, que "continuará a reboque das decisões estratégicas de 'd.Terezinha'". A PF não identificou quem seria a pessoa citada no código.

No período, Dilma Rousseff chefiava a Casa Civil e era a "mãe do PAC", responsável por decisões estratégicas do principal programa infraestrutura do governo Lula.

OUTRO LADO

Questionado sobre o relacionamento do ex-presidente com os empresários, o Instituto Lula afirmou que há uma "repetitiva, sistemática e reprovável tentativa de alguns órgãos de imprensa" de criminalizar atuação "lícita, ética e patriótica" do petista na defesa de interesse nacional.

"Temos a absoluta certeza da legalidade e lisura da conduta do ex-presidente", diz a nota da entidade.

Procurado, Miguel Jorge, ministro de 2007 a 2010, disse que não há "nada de comprometedor" na mensagem que enviou. Ele afirma que fazer lobby por empresas brasileiras é "obrigação funcional" de um ministro do Desenvolvimento.

A Odebrecht também negou, por meio de nota, que sua relação com autoridades federais tivessem sido impróprias e criticou o vazamento das mensagens que registram "uma atuação institucional legítima e natural" e não têm relação com a investigação.


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