Folha de S. Paulo


Intelectuais pró-PT criticam ajuste fiscal do governo Dilma

Fabio Braga/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 28-09-2015: O ex-presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo. Com a participaCAo de mais de uma centena de especialistas, o documento Por um Brasil justo e democratico e lancado em evento na Capital. Reunindo liderancas e representantes de movimentos sociais, de sindicatos, de partidos politicos, de organizacoes da sociedade civil e de personalidades do campo progressista, todos mobilizados pela defesa da democracia, da legalidade, dos direitos sociais e civis e pela mudanca imediata dos rumos da politica economica. O documento e dividido em dois volumes: Mudar para sair da crise – Alternativas para o Brasil voltar a crescer (Vol. I) e O Brasil que queremos - Subsídios para um projeto de desenvolvimento nacional (Vol. II). Articulado e debatido em seis reunioes, o documento foi elaborado a partir de dezenas de artigos sobre temas diversos que serviram de base para a consolidacao dos subsidios nele apresentados. Os resultados sao preliminares e servem como base para o debate amplo, plural e suprapartidario. O documento e uma iniciativa de: Brasil Debate, Centro Internacional Celso Furtado de Políticas Para o Desenvolvimento, Fundação Perseu Abramo, Fórum 21, Plataforma Política Social, Le Monde Diplomatique Brasil e Rede Desenvolvimentista. (Foto: Fabio Braga/Folhapress, PODER).
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo

Economistas ligados ao PT e à esquerda traçaram um diagnóstico cético do ajuste conduzido pela presidente Dilma Rousseff e lançaram um manifesto contra o pacote.

Conforme a Folha antecipou neste domingo, eles defendem que o corte de gastos e os juros altos para controlar a inflação vão desencadear um cenário de recessão profunda, reduzindo ainda mais a arrecadação de impostos e derrubando o ânimo dos investidores.

Os principais formuladores das críticas são economistas e intelectuais influentes à esquerda, como o ex-presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marcio Pochmann e o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo –ambos muito próximos do ex-presidente Lula.

A receita oferecida no primeiro volume do estudo "Por um Brasil justo e democrático", lançado nesta segunda (28) em São Paulo, inclui queda da taxa de juros, preservação dos gastos sociais e a ampliação de investimentos a partir de supostas novas fontes de receita com a revisão de isenções fiscais e combate à sonegação.

O documento defende a retirada dos investimentos do cálculo da meta do superávit, que deveria funcionar com sistema de bandas variáveis.

"É impressionante como os fatos passam na cara das pessoas e elas não veem. Obter superávit primário com a economia desacelerando não vai funcionar por uma razão simples: cai a receita fiscal, cai a renda e o volume de transações acumuladas, caem os lucros das empresas e os salários", disse Belluzzo.

"Quem está desempregado, por exemplo, não contribui com a previdência", exemplificou.

Para Pochmann, que preside a Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT), as premissas da política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estão erradas.

Segundo ele, a retomada do crescimento econômico pela recuperação do investimento privado, como resultado do ajuste fiscal proposto por Joaquim Levy, não vai se confirmar.

"Todo ajuste fiscal reduz o nível de atividade econômica. O ministro Levy, por exemplo, em janeiro havia afirmado que nós teríamos uma recessão de apenas três meses, agora já está se falando que vai durar até 2017", afirmou.

As críticas obtiveram ressonância entre encarregados de defender Dilma no Congresso.

"A gente quer defender esse governo, mas esse governo só consegue se salvar da pressão contra ele se mudar de rumo. Esse é o momento em que o bom amigo não fica calado, com uma posição acrítica", disse o senador Lindbergh Faria (PT-RJ).

O congressista do Rio teme que o resultado do ajuste seja o desemprego ultrapassar a barreira de 10% vai acabar de corroer as condições da presidente governar.

Outro aliado histórico do PT, o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) João Pedro Stedile, foi ácido ao se referir à política econômica do atual governo, que, segundo ele, represou investimentos em habitação e reforma agrária.

"Desde janeiro, a economia está vindo ladeira abaixo. O governo está errando em tudo. Até parece o Vasco, só faz gol contra", afirmou.


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