Folha de S. Paulo


Propina de Angra 3 foi paga até janeiro deste ano, diz PF

O pagamento de propina pelas obras da usina nuclear Angra 3, conduzida pela estatal Eletronuclear, ocorreu pelo menos até janeiro deste ano, quando empreiteiros e agentes públicos já haviam sido presos sob suspeita de corrupção.

O comprovante deste pagamento foi um dos fundamentos para a prisão preventiva do sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho, nesta segunda-feira (21), na 19ª fase da Operação Lava Jato.

O presidente licenciado da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro da Silva, foi um dos beneficiados pela propina, segundo a Polícia Federal. O pagamento foi feito à empresa Aratec, de propriedade do almirante e de sua filha, Ana Cristina Toniolo.

Os dois já respondem na Justiça sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, por recebimentos de propina via Aratec.

"Mesmo com um diretor da Engevix preso [Gerson Almada, que foi detido em novembro do ano passado], eles continuaram com o mesmo esquema de corrupção", afirmou o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que integra a força-tarefa da Lava Jato.

O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, acolheu as alegações da Procuradoria e decretou a prisão de Sobrinho. Segundo o magistrado, o repasse de propina feito mesmo após a prisão de outro executivo da Engevix mostra que a detenção de Sobrinho é necessária para evitar a realização de novos pagamentos de suborno.

Sobrinho também entrou em contato com uma testemunha para tentar combinar a versão de um depoimento sobre o esquema –o que foi mais um dos motivos para sua preventiva.

De acordo com o despacho do juiz Moro, houve um encontro entre Sobrinho e Victor Sérgio Colavitti, titular da Link Projetos, uma das empresas usadas para repassar propinas à Aratec, no dia 15 de julho passado.

Em depoimento de delação premiada, Colavitti afirmou que nesse encontro Sobrinho relatou que iria produzir documentos falsos para tentar justificar os repasses do esquema de corrupção, segundo o magistrado.

O Ministério Público também havia requerido a decretação das prisões de outros dois executivos investigados no caso, Gustavo Ribeiro de Andrade Botelho, da empreiteira Andrade Gutierrez, e Cristiano Kok, da construtora Engevix, mas Moro negou os pedidos.

O juiz afirmou no despacho que, embora haja indícios de que os dois tiveram envolvimento no esquema de corrupção, as prisões de outros executivos das empresas já são suficientes para evitar que as empreiteiras voltem a cometer crimes.

Os contratos investigados da Engevix com a Eletronuclear nesta fase somam R$ 140 milhões, e foram firmados entre 2011 e 2013. Ainda não se sabe quanto de propina foi paga nessa operação.

No final de julho, Pinheiro da Silva foi preso sob a suspeita de recebimento de R$ 4,5 milhões em propina. Para os investigadores, o esquema replicava o ocorrido na Petrobras, com o uso de licitações fraudadas, superfaturamento e pagamento de propinas a dirigentes da estatal e a políticos.


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