Folha de S. Paulo


E-mails revelam atuação de Dirceu como corretor antes de ser preso

Hedeson Alves - 31.ago.15/Efe
BRA01. CURITIBA (BRASIL), 31/08/2015.- El exministro brasileño José Dirceu, el hombre fuerte del primer mandato del expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), condenado hace dos años por corrupción y detenido este mes por su supuesta vinculación a la red de corrupción en la petrolera estatal Petrobras, habla en la sede de la Policía Federal de Curitiba (Brasil). Dirceu se negó a declarar hoy ante una comisión del Congreso brasileño que investiga el caso. Los miembros del grupo parlamentario se desplazaron hasta la ciudad de Curitiba, en el sur del país, donde se reunieron con Dirceu en dependencias de la justicia federal, pero no lograron una sola respuesta a las preguntas formuladas durante una media hora. EFE/Hedeson Alves ORG XMIT: BRA01
O ex-ministro José Dirceu, preso na Lava Jato, durante depoimento à CPI da Petrobras, em Curitiba

"Amigo Zé Dirceu, sou dono dessa propriedade no sul da Bahia, 140 hectares com um quilômetro de praia privativa... me ajuda a vender isso se puder? Se vc gostar podemos discutir preço no telefone e acertar 1 milhão de dólares comissão."

A quebra de sigilo telemático de um sócio do ex-ministro José Dirceu revelou, em mensagens como essa, uma atuação constante do petista como uma espécie de corretor de grandes propriedades pelo país antes de ser preso.

Nas mensagens, o ex-ministro é procurado para intermediar negócios, analisa opções de alto padrão e recebe ofertas de propriedades rurais.

Detido desde o dia 3 de agosto, Dirceu virou réu nesta semana sob suspeita de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e associação criminosa em ação penal relacionada à Operação Lava Jato. Ele é acusado de ter recebido propina de empresas com contratos da Petrobras.

O ex-ministro da Casa Civil, homem forte do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vinha argumentando que a sua empresa JD Consultoria, investigada na operação, ajudava grupos empresariais de variadas áreas a prospectar negócios no Brasil e também no exterior.

Os e-mails anexados ao processo foram obtidos em uma conta do sócio Julio Cesar dos Santos, apontado como operador de Dirceu pela Polícia Federal. Julio Cesar fazia articulações por meio de sua empresa, a TGS Consultoria, e discutia os termos dos negócios com empresários.

A mensagem sobre a propriedade com praia privativa no sul da Bahia foi escrita em fevereiro de 2012 por um empresário chamado Julio Ferreira, que mora nos Estados Unidos e queria se desfazer do terreno para financiar a construção de um shopping.

As trocas de mensagens eletrônicas obtidas com a quebra de sigilo abordam o período anterior à condenação de Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal em novembro de 2012 pelo mensalão.

Em um arquivo de 2010, ele disse a Julio Cesar: "Preciso [de] terreno [com] 100.000 metros em Campinas para um complexo industrial".

Em 2008, uma secretária de Dirceu mandou um e-mail para o cineasta Luiz Carlos Barreto pedindo uma dica sobre como "vender uma ilha". Em outro e-mail, o ex-ministro discutiu com o banqueiro Walter Appel opções de imóveis em São Paulo.

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E-mails revelam atuação de Dirceu como corretor
Em fevereiro de 2012, o empresário Julio Ferreira mandou e-mail a Dirceu sobre venda de propriedade
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Propriedade no sul da Bahia que o empresário Julio Ferreira queria vender com ajuda de Dirceu

LIVROS DIDÁTICOS

O relatório de um agente da PF sobre a quebra de sigilo afirma que Julio Cesar buscava novos negócios para José Dirceu, principalmente no ramo imobiliário.

Entretanto, a atuação como corretor não foi abordada na denúncia do Ministério Público Federal nem no relatório do delegado responsável pelo indiciamento do ex-ministro da Casa Civil.

Na investigação, o sócio se identificou à Polícia Federal como corretor de imóveis e disse que a "intermediação imobiliária" era uma atividade secundária da JD Consultoria, embora a empresa nunca tenha concretizado nenhuma operação nessa área.

Em um outro caso de 2008, o ex-chefe da Casa Civil atuou como intermediário da venda de um terreno na rodovia Anhanguera, em São Paulo, por um advogado chamado Armando Zurita para Carlos Alberto de Oliveira Andrade, fundador do grupo Caoa, montador e revendedor de veículos.

Uma versão do contrato aponta que a o valor da venda seria de R$ 3,6 milhões. Durante a negociação, Dirceu articulou um contrato de consultoria de R$ 253 mil para que a JD "divulgasse" dois livros didáticos escritos pelo advogado sobre a Amazônia. O relatório elaborado pela Polícia Federal chama a atenção para a coincidência entre as datas.

OUTRO LADO

Questionou pela Folha sobre as propostas de negócios que ele recebeu por e-mail, a assessoria do ex-ministro José Dirceu informou apenas que todas atividades da empresa de consultoria que ele tinha antes da prisão foram declaradas à Receita Federal.

A assessoria de Dirceu também declarou que os advogados do ex-ministro só pretendem se manifestar sobre os detalhes do caso nos autos do processo que tramita na Justiça Federal no Paraná.

Em manifestações anteriores, Dirceu negou ter participado do esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato e justificou os pagamentos recebidos de várias empresas sob investigação alegando que as ajudou a prospectar negócios no exterior, não no Brasil.

O grupo Caoa afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o único terreno que possui na rodovia Anhanguera foi comprado nos anos 90.

O advogado Armando Zurita, que teria proposto um negócio ao ex-ministro José Dirceu, não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha.


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