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Golpismo é de quem fala, diz Bicudo sobre crítica de Dilma a impeachment

Diego Padgurschi/Folhapress
Sao Paulo 16.09.2015. Assinatura do pedido de impeachment - presenca : dr.Helio Bicudo, Miguel Reale Jr e Carla Zambelli - 4o Tabeliao de Notas. Foto: Diego Padgurschi /Folhapress
Helio Bicudo reconhece firma de pedido de impeachment em cartório nos Jardins

Na tarde desta quarta-feira (16) o ex-petista Hélio Bicudo, 93 anos, se reuniu com o jurista Miguel Reale Jr. e a professora de Direito da USP Janaina Paschoal em um cartório de notas nos Jardins, em São Paulo, para reconhecer firma do documento que pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com as assinaturas, o pedido de impeachment do ex-petista passa a ter como denunciante também Reale Jr., além de Janaina, que já subscrevia a primeira versão. Também figuram na nova versão do documento como testemunhas Carla Zambelli, do NasRuas, que representa 40 movimentos sociais, Adelaide de Oliveira, do Vem Pra Rua, e Kim Kataguiri, do MBL (Movimento Brasil Livre).

Questionado sobre a fala da presidente Dilma na manhã desta quarta a uma rádio de Presidente Prudente (SP) em que disse que usar a crise "como mecanismo para chegar ao poder é uma versão moderna do golpe", Bicudo respondeu: "Esse negócio de falar que é golpismo, é golpismo de quem fala. Estamos agindo de acordo com o que a constituição diz".

O ex-petista também afirmou que preferia a convocação de novas eleições a um eventual mandato exercido pelo vice-presidente Michel Temer. "Temos que ter eleições livres e gerais para escolher um novo presidente", disse, reconhecendo em seguida a dificuldade de se eleger um novo governante na atual conjuntura.

O jurista Miguel Reale Jr. também rechaçou que haja qualquer tentativa de golpe, e comparou o governo petista à uma "ditadura da propina". "Lutamos contra a ditadura do fuzil e agora lutamos contra a [ditadura] da propina".

Reale Jr., que foi ministro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ajudou a redigir petição do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, chegou a emitir uma manifestação em maio deste ano afirmando que não havia clima político para o impeachment de Dilma, mas disse que o cenário mudou.

"Não teria passado em março, abril. Hoje há ambiente para isso (passar o impeachment em votação no Congresso Nacional).

Depois da assinatura do documento, os integrantes dos movimentos presentes no cartório entoaram palavras de ordem contra o PT como "Olê, Olê, estamos na rua para derrubar o PT". Eles também levaram miniaturas de bonecos do ex-presidente Lula vestido de presidiário, figura que ganhou o nome de "Pixuleco" devido à operação Lava Jato.

O documento de Bicudo deve ser protocolado na quinta-feira (17), na Câmara. Os movimentados anti-Dilma estão se organizando para fazer um grande ato em Brasília na data em que for marcada a votação do requerimento referente ao impeachment.

NOVA VERSÃO

Segundo a advogada Janaina Paschoal, que também assina o pedido de impeachment, o documento não teve que passar pelas alterações sugeridas pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "O que ele enviou foi um ofício padrão para todos que entraram com pedidos de impeachment. A nossa solicitação já seguia todas as regras".

No entanto, a nova versão do pedido que tem Hélio Bicudo e Reale Jr. como principais signatários, passou a incluir o procurador do (TCU) Tribunal de Contas da União Júlio Marcelo de Oliveira como testemunha.

O procurador é um dos nomes que mais incomoda o governo: assinou a representação que pede a investigação das pedaladas fiscais, foi contra a negociação de acordos de delação entre as empreiteiras investigadas na Lava Jato e a CGU (Controladoria-Geral da União) e solicitou a suspensão do empréstimo de US$ 3,7 bilhões do BNDES para a Sete Brasil, que fabricou as sondas para a Petrobras.

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