Folha de S. Paulo


Rebaixamento do Brasil 'não significa nada', diz Lula

David Fernández/Efe
BAS01. BUENOS AIRES (ARGENTINA), 10/09/2015.- El expresidente brasileño Luiz Inacio Lula Da Silva interviene en la apertura del tercer Congreso Internacional de Responsabilidad Social hoy, jueves 10 de septiembre de 2015, en Buenos Aires (Argentina). EFE/David Fernández ORG XMIT: BAS01
Lula na abertura do 3º Congresso Internacional de Responsabilidade Social, em Buenos Aires, Argentina

A perda do selo de bom pagador pelo Brasil "não significa nada", na opinião do ex-presidente Lula. Em visita à Argentina, ele afirmou que o governo não deve aceitar a "receita" que vêm desses organismos.

"É importante que a gente tenha em conta que o fato de ter diminuído o grau de investimento não significa nada. Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que a gente quer", afirmou Lula.

"Porque quando eles diminuem, vem a receita de mais arrocho, mais ajuste, mais desemprego, mais corte de gastos. Não vem nunca nunca mais educação, mais profissionalismo, mais investimento", acrescentou.
Lula também criticou as agências de classificação de risco.

"Eu acho engraçado como eles têm facilidade de tomar medidas contra a dor de barriga na América Latina", disse. "Todo mundo sabe quantos países da Europa estão quebrados. E eles não têm coragem de reduzir o rating de nenhum deles".

O discurso vai de encontro ao que o ex-presidente afirmou quando a mesma Standard & Poor's foi a primeira das três agências de risco mais importantes a dar ao Brasil o grau de investimento em 2008, durante seu segundo mandato. À época, Lula disse que o país vivia um "momento mágico".

"O Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas finanças com seriedade e que, por isso, passou a ser merecedor de uma confiança internacional que há muito tempo necessitava",
afirmou o ex-presidente na ocasião.

Nesta quinta, Lula afirmou que, assumiu a Presidência, em 2003, levou seus ministros, principalmente os representantes da área do Planejamento e da Fazenda, para "pegar na mão de um pobre".

"Era importante que o ministro do Planejamento e da Economia soubessem que eles não estavam governando apenas para as agências de rating. É importante que eles soubessem que havia um outro Brasil, que parecia invisível, que só aparecia nas estatísticas e que, para alguns, simbolizavam os problemas do Brasil", afirmou.

-

Ouça abaixo o trecho do discurso em que Lula afirma que a perda do grau de investimento "não significa nada"

Ouça

'OUVIR A SOCIEDADE'

Segundo Lula, quando assumiu a Presidência, muitos economistas lhe diziam que o Brasil "estava quebrado, não tinha conserto, que não era possível governar, que não tinha dinheiro sequer para fechar o caixa no final do ano".

"Eu ficava me perguntando: se essas pessoas são meus amigos e me dizem que o país está quebrado, que diabo de amigos me elegeram presidente?", disse. "Aí eu resolvi ouvir a sociedade brasileira. Eu resolvi compartilhar o mandato. Eu falo muito, mas eu ouço muito".

O ex-presidente disse que procurou ouvir empresários e trabalhadores.

"Duro é quando você pensa que sabe tudo sozinho", afirmou. "Eu não tinha uma tese para governar, eu tinha um projeto e o meu projeto era melhorar a vida das pessoas mais humildes, porque eu sabia quando os mais pobres subissem um degrau na escala social todo mundo poderia ganhar".

Lula está na Argentina a convite da fundação DAR (Fundación Desarollo Argentino), controlada pelo governador Daniel Scioli, que concorre à presidência com o apoio da presidente Cristina Kirchner. Ele discursou em uma seminário sobre responsabilidade social.

Classificação de risco

AJUSTE

Também nesta quinta, o ex-presidente demonstrou estar em desacordo com as medidas de ajuste fiscal, em um momento em que o governo Dilma anuncia corte de gastos e estuda aumentar impostos para conter a crise econômica.

"Me assusta muito a visão de todos aqueles que, ao primeiro sintoma de uma crise, começam falar em ajuste. Ajuste significa corte de salários, corte de emprego, significa voltar ao patamar de miséria que você estava [antes] para poder recuperar a economia. A mim, não agrada", afirmou.

Lula disse ainda que o bom funcionamento da economia e o aumento do crédito, indispensável ao crescimento, dependem da confiança, e que ele percebeu isso assim que chegou ao governo. Ele foi presidente de 2003 a 2010.

"A economia não poderia funcionar sem uma política de, primeiro, muita previsibilidade. Porque em economia não existe mágica, existe uma palavra chamada confiança e credibilidade. E se ela existir entre os governantes e os governados, tudo fica mais fácil".


Endereço da página:

Links no texto: