Folha de S. Paulo


Lula defende gastos sociais e diz que pobres 'salvaram' economia do Brasil

Reuters
Paraguay's President Horacio Cartes (L) speaks to former Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva at the international seminar Tekopora at the Central Bank of Paraguay in Asuncion City, Paraguay, September 8, 2015. REUTERS/Stringer ORG XMIT: ASU01
O ex-presidente Lula em evento com o presidente do Paraguai, Horácio Cartes, em Assunção

Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff falar da necessidade de um "remédio amargo" para conter a crise econômica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu as despesas do governo em programas sociais.

Em visita ao Paraguai, nesta terça-feira (8), Lula afirmou que os mais pobres "salvaram" a economia brasileira no passado e que os gastos com programas sociais não devem ser deixados de lado no Orçamento.

Ele usou como exemplo a decisão que tomou, quando assumiu a Presidência da República, em 2003, da criação do programa Fome Zero.

"Era um momento em que a economia brasileira não estava bem, um momento muito difícil, em que qualquer ministro da Fazenda, de qualquer país do mundo, iria dizer que não poderia fazer o programa porque não tinha dinheiro", afirmou o petista.

"Eu, então, resolvi que era exatamente naquele instante que nós tínhamos que dar o exemplo da inclusão dos mais pobres no orçamento da União", complementou.

A afirmação foi dirigida ao colega Horácio Cartes, presidente do Paraguai. E ocorreu no mesmo dia em que o governo admitiu a necessidade de cortar gastos, inclusive em programas sociais.

"Toda desculpa é que não tem dinheiro. E eu resolvi provar que era possível a gente mudar isso", afirmou.

Na visão exposta por Lula, a expansão da economia durante seu mandato (2003-2010) deveu-se às políticas que incentivaram o consumo da camada mais pobre. Ele sugeriu que esse deve ser o motor a ser reativado neste momento de dificuldades.

"O pobre ajudou a salvar o Brasil. Eu sempre digo que, antes de eu chegar à Presidência, os pobres eram tratados como se fossem problemas. E hoje eu digo que cuidar dos pobres é a solução."

Segundo Lula, na hora em que você inclui as pessoas mais pobres no Orçamento, elas se transformam em pequenos consumidores, "com um pequeno emprego, que ativa o comércio e a indústria". "Você cria uma máquina de desenvolvimento que garantiu, no caso do Brasil, tirar 36 milhões de pessoas da miséria absoluta", disse.

"Nunca antes tinha acontecido um fenômeno que fizesse com que a economia começasse a girar com tamanha rapidez, e a gente percebeu que era isso: política pública, crédito e comida para as pessoas", acrescentou.

AJUSTES

Referindo-se a ajustes fiscais em outros países, classificados como "muito fortes", Lula disse que o resultado foi "que ficaram mais pobres do que estavam antes do ajuste".

"Eu, portanto, acho que nós estamos em um momento de voltar a acreditar nos pobres outra vez", afirmou.

O ex-presidente disse os programas sociais enfrentam resistência da sociedade e dentro do governo.

"Vai ter gente que vai ser contra, vai dizer que vai criar uma sociedade de preguiçosos, de pessoas que não querem trabalhar", disse.

"É muito difícil encontrar alguém dos setores da Fazenda e do Tesouro disposto a dar essa contribuição para ajudar os que vêm de baixo."

VIAGENS

O ex-presidente Lula viajou ao Paraguai a convite do presidente Horácio Cartes. Pela manhã, fez uma palestra no Banco Central sobre os 10 anos do programa "Tekoporã", uma versão paraguaia do Bolsa Família.

Ele se hospedou no hotel Sheraton e almoçou com Cartes na residência oficial do presidente do Paraguai, Mburuvucha Róga.

Lula deixou Assunção por volta de 16h, com destino a Buenos Aires.

Nesta quarta (9), ele participa de um evento de campanha ao lado do candidato a presidente Daniel Scioli, do mesmo partido da presidente Cristina Kirchner.


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