Folha de S. Paulo


Empresários defendem Levy e alertam governo sobre grau de investimento

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 31-08-2015, 18h00: Os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) durante coletiva de imprensa para anunciar a proposta orçamentária para 2016 enviada ao congresso hoje, no Palácio do Planalto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O ministro Joaquim Levy (Fazenda) durante anúncio da proposta orçamentária para 2016

Na última quarta-feira (2), dia em que Luiz Carlos Trabuco (Bradesco) desembarcou em Brasília para defender a política econômica de Joaquim Levy junto à presidente Dilma, um grupo de empresários fez um encontro reservado com o ministro da Fazenda, à noite, em São Paulo a fim de fazer um "chamamento à realidade" do governo e do Congresso Nacional.

Dois empresários presentes à reunião resumiram à Folha a linha geral das conversas daquela noite, transmitida à presidente Dilma Rousseff por telefone por um dos executivos que participaram do encontro: o governo precisa evitar a perda do grau de investimento; para isso, tem de trabalhar para cumprir a meta de superavit primário de 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) no próximo ano e deve buscar esta meta por meio principalmente de cortes de despesas obrigatórias e evitar, ao máximo, aumento de impostos.

A expectativa dos presentes é de que o governo, num prazo de três a quatro semanas, monte um pacote de medidas para atingir estes objetivos, numa corrida contra o tempo para evitar a perda do grau de investimento pelas agências de classificação de risco ainda neste ano ou no princípio do próximo.

Um empresário disse à Folha que o governo e o Congresso precisam compreender e passar a mensagem de que uma perda do selo de bom pagador trará prejuízos principalmente para a população, para os trabalhadores.

Segundo ele, a mensagem é que o rebaixamento do Brasil para o grau de especulação vai levar a uma subida dos juros, alta da inflação e aumento do desemprego.

Tanto os empresários que vararam a madrugada de quarta para quinta-feira quanto o próprio ministro da Fazenda esperam para ver se a retórica do compromisso de Dilma com o superavit primário de 0,7% do PIB se transformará em realidade, por causa das inúmeras dúvidas sobre o empenho da presidente e alguns de seus ministros em sacrificar programas sociais.

Alguns dos empresários ali presentes entenderam que o prazo próximo de três a quatro semanas esconde uma espécie de ultimato para a permanência de Levy no cargo e, por consequência, o apoio do PIB nacional à presidente da República.

A equipe do ministro Joaquim Levy nega qualquer tipo de "ultimato" ao governo num prazo definido e diz que o ministro ficou satisfeito com as últimas conversas com a presidente e está confiante de que o Palácio do Planalto vai convencer o Congresso a promover cortes de despesas obrigatórias e mudança de gestão de projetos.

O posicionamento do grupo de empresários não ficou explícito na reunião de emergência de Dilma com a equipe econômica. Àquela altura, a cúpula do Planalto já havia assimilado o recado dos empresários e adotado o discurso que os contempla.

Para o governo, não há opção a não ser acatar a proposta, pois a enxerga como a chance de recuperar alguma estabilidade no médio prazo.

Estavam presentes, entre outros, os empresários Beto Sicupira, Carlos Jereissati, Moreira Salles, Pedro Passos, Edson Bueno e Josué Gomes da Silva, além do especialista em gestão pública Vicente Falconi e do dirigente da Falconi Consultores de Resultados, Mateus Bandeira, e de Antônio Machado, presidente do Instituto Talento Brasil.


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