Folha de S. Paulo


Para relator, deficit em proposta de Orçamento pode passar de R$ 30,5 bi

O relator-geral do Orçamento da União de 2016, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), informou nesta terça-feira (1º) que a proposta apresentada pelo governo federal não incluiu despesas que podem chegar a R$ 3,4 bilhões, o que pode aprofundar ainda mais a previsão de rombo.

A peça orçamentária proposta pelo governo federal tem previsão de deficit primário de R$ 30,5 bilhões, o que representa 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Segundo o deputado federal, não foram computados no documento emendas parlamentares impositivas, que representam R$ 1,5 bilhão, e recursos da Lei Kandir, montante de R$ 1,9 bilhão.

Ele ressaltou, contudo, que normalmente a Lei Kandir é incluída pelo Congresso no Orçamento e que ela não tem sido executada nos últimos anos integralmente, apesar da pressão de governadores.
Em relação às emendas parlamentares, segundo ele, o governo federal destinou 1% da receita líquida, e não 1,2%, como é previsto na Constituição.

O deputado observou que, como a análise da proposta orçamentária teve início nesta segunda (31), outras despesas que não foram incluídas poderão ser encontradas pela Câmara dos Deputados nesta semana.

Orçamento 2016

REMANEJAMENTOS

Ele afirmou que pretende apresentar a proposta do governo federal para todas as bancadas estaduais na Câmara dos Deputados, para discutir possíveis remanejamentos e correções.

Em um contraponto aos partidos de oposição, ele ressaltou, contudo, que a omissão de novas despesas não justifica a devolução da proposta orçamentária ao Palácio do Planalto.

"A proposta não fere a Lei da Responsabilidade Fiscal. O governo federal pode fazer deficit desde que o Congresso Nacional autorize. O que ele não pode é gastar mais do arrecadada sem autorização do Poder Legislativo. Não há nenhuma ilegalidade ou razão para devolver a peça orçamentária", disse.

Nesta terça-feira (1º), os partidos de oposição ao governo federal na Câmara dos Deputados anunciaram que irão sugerir ao presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), que exija da presidente Dilma Rousseff (PT) que retire a proposta orçamentária ou mande um aditivo.

Segundo eles, o rombo orçamentário é de pelo menos mais R$ 115 bilhões, além dos R$ 30, 5 bilhões apresentados pelo governo federal.

O calculo é feito com base na expectativa do mercado de retração da economia, de 0,4% em 2015. O governo federal prevê um leve crescimento de 0,2%.

Além disso, a oposição conta como recursos garantidos as chamadas receitas extraordinárias, de R$ 48,5 bilhões.

DEFESA

O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defendeu a peça orçamentária.

"O orçamento foi mandado com base no cenário macroeconômico com as previsões de despesas e receitas baseadas na metodologia usual da Receita Federal e do Ministério do Planejamento", disse.

Ele afirmou, contudo, não ter conversado com o relator sobre essa perspectiva de um deficit maior.

O ministro disse que, normalmente, o governo envia o Orçamento sem uma previsão de recursos da Lei Kandir, mas que dessa vez incluíram R$ 1,95 bilhão. "Já na questão da reserva de contingência, seguimos o que tem sido feito nos últimos anos e colocamos 1% da receita corrente líquida".

Barbosa reconheceu que o ideal era colocar 1,2% da receita na reserva, "mas isso é coisa que o relator pode ajustar na tramitação do projeto de lei".

O ministro esteve no Congresso nesta terça para rodadas de conversas com deputados sobre o Orçamento e sobre o veto presidencial à proposta que reajusta o salário dos servidores do Judiciário.

Ele apresentou os números às bancadas do PT, PCdoB e PROS em mais de quatro horas de conversas, durante as quais, pediu auxílio do Congresso para encontrar formas de solucionar a situação fiscal do país.

"Estamos empenhados em construir soluções para recuperar a estabilidade fiscal, mas esse desafio envolve mudanças legais, legislativas, que precisam ser discutidas com a sociedade. Já temos uma posição sobre isso e vamos apresentar nossa proposta para o Congresso Nacional ainda este ano".


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