Folha de S. Paulo


Temer se consolidará como alternativa de poder, avalia PMDB

Prestes a deixar o comando da articulação política, Michel Temer (PMDB-SP) caminha para se consolidar como alternativa de poder ao governo, avalia seu partido, o PMDB.

Para alguns dos principais integrantes da legenda, o vice-presidente da República é o beneficiário direto da crise tanto na hipótese de um desfecho dramático, caso de uma interrupção do mandato de Dilma Rousseff, quanto na possibilidade de a petista seguir no cargo fragilizada até 2018, o que aumentaria a influência interna de Temer no papel de fiador político.

A única saída que não inclui o peemedebista está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que analisa pedido da oposição para anular as eleições do ano passado. Um desfecho assim excluiria a ambos.

Dilma conseguiu respirar melhor nos últimos dias graças ao apoio de empresários contrários à tese do impeachment e à recuperação do diálogo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

As investidas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a favor de projetos com forte impacto fiscal sedimentaram entre os chamados barões do PIB (Produto Interno Bruto) o temor de que a guerra política exaurisse as chances de recuperação econômica no médio prazo.

No partido, nota-se que nenhuma das reações que aliviaram a vida do governo recentemente foi costurada pelo Planalto. Passivo, o Executivo aposta na reaproximação com sua base social para se manter no poder contra eventuais tentativas de deposição.

Auxiliares de Dilma arriscavam na sexta (21) o prognóstico de que a situação melhorou, mas que o respiro está longe de ser permanente.

De duas semanas para cá, peemedebistas com interlocução junto ao setor privado começaram a medir o pulso do mercado para entender as razões do relativo suporte à manutenção do governo. Um deles ouviu a seguinte metáfora: "atuamos como uma espécie de junta médica. Enquanto acharmos que é melhor a sobrevida do paciente, manteremos os aparelhos ligados. Só desligaremos quando não houver mais jeito."

Conforme esses relatos, Temer está mais fortalecido, mas ainda precisa mostrar ser capaz de controlar Eduardo Cunha, o que não ocorreu nas últimas semanas, e sinalizar que ele pode, de fato, reunificar o país, o que inclui o PT, caso a tarefa de administrar o país caia no seu colo.

Dois movimentos recentes de Temer ajudam a corroborar o sentimento de que, cuidadosamente, ele se afirma como alternativa de poder. Em palestra para investidores em Nova York, em julho, o vice-presidente surpreendeu ao dizer que, se fosse presidente, manteria Joaquim Levy no Ministério da Fazenda.

Em agosto, Temer disse que o país precisa de "alguém [que] tenha a capacidade de reunificar a todos".

Apesar das sinalizações, aliados afirmam que intenção de Michel Temer sempre foi ajudar a debelar a crise.


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