Folha de S. Paulo


'Tenho medo do deputado Eduardo Cunha', explicou delator da Lava Jato

"Eu tenho medo do deputado Eduardo Cunha [PMDB-RJ]", afirmou o lobista Júlio Camargo aos investigadores da Operação Lava Jato para tentar justificar a decisão de mudar sua delação premiada para acusar o presidente da Câmara de receber US$ 5 milhões de propina do esquema de corrupção da Petrobras.

Segundo o lobista, Cunha é um homem poderoso, que teria condições de retaliar sua família e suas empresas, de forma direta ou indireta. "Estamos tratando da terceira pessoa mais importante do país e de uma pessoa agressiva quando quer alcançar seus objetivos", disse Camargo.

O lobista disse ainda que repensou sua fala porque "não queria ter mais qualquer pendência neste tema e queria ir até o fim". Boa parte da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Cunha pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro leva em consideração a colaboração de Camargo com as investigações.

Segundo procuradores, a mentira do delator pode ter efeito sobre seus benefícios acertados em troca da colaboração com as investigações.

O Ministério Público afirma que Cunha recebeu US$ 5 milhões em propina. Os pagamentos ocorreram, segundo a PGR, entre 2007 e 2012, após o fechamento de contratos entre a Petrobras e a Samsung Heavy Industries, da Coreia do Sul, para fornecimento de dois navios-sondas para a estatal do petróleo no valor total de US$ 1,2 bilhão.

Entre os documentos que constam na denúncia contra Cunha, também foi anexado um e-mail da Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Rio à funcionária de Camargo de doação de R$ 250 mil. A mensagem, de 31 de agosto de 2012, traz o valor e fala ainda que "conforme orientação do Julio, seguem os dados para a doação que ele ficou de fazer hoje".

Duas empresas de Camargo, Piemonte e Treviso, fizeram transferências para as contas da greja no valor total de R$ 250 mil em 31 de agosto de 2012. A PGR diz que é "notória" a vinculação de Cunha com a igreja.


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