Folha de S. Paulo


ONG quer saber de Maduro impacto da Lava Jato em obras na Venezuela

O escritório venezuelano da ONG Transparência Internacional, referência no combate à corrupção, disse à Folha nesta terça-feira (18) que irá processar o governo do presidente Nicolás Maduro por ocultar informações básicas sobre contratos com empreiteiras brasileiras envolvidas na Lava Jato.

A Transparência Venezuela também divulgou documento exigindo que o governo chavista explique o impacto da Lava Jato na Venezuela, onde Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão mantêm investimentos bilionários em ao menos 39 grandes obras de infraestrutura.

"A Justiça brasileira está fazendo seu trabalho. Se o Ministério Público da Venezuela fosse independente, seria natural que se começasse a investigar as empreiteiras brasileiras no país imediatamente após a Lava Jato estourar no Brasil, mas aqui as autoridades se recusam a prestar contas", diz Mercedes De Freitas, diretora da Transparência Venezuela.

Ela se colocou a disposição da Justiça brasileira para colaborar com as investigações da Lava Jato.

Wilmer Errades - 3.ago.2015/Xinhua
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro (centro), ao lado do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello (esq,)
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro (centro), ao lado do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello (esq,)

Escritórios da ONG no exterior também pedirão explicações semelhantes aos governos de Argentina, Peru, Chile, República Dominicana, Guatemala e Panamá, países com forte presença das empreiteiras brasileiras.
Na Venezuela, maior mercado para as empresas citadas, o caso está mais adiantado.

A Transparência Venezuela, amparada pelo direito de acesso à informação pública, formalizou nesta segunda-feira questionamentos a autoridades venezuelanas sobre qualidade, prazos e valores de dezenas de contratos assinados a partir de 2003 por impulso dos então presidentes Lula e Hugo Chávez.

Órgãos estatais questionados, como o Ministério do Transporte e Obras Públicas, a petroleira PDVSA e o Metrô de Caracas, têm 20 dias para responder. Mas a Transparência Venezuela prevê que, a exemplo da praxe em requerimentos anteriores, não haverá resposta. Com isso, a ONG alegará violação dos artigos 28 e 51 da Constituição bolivariana que garantem acesso dos cidadãos a informação pública relevante e acionará o Tribunal Superior de Justiça (TSJ).

Esta opção tampouco deve ter efeito, já que o TSJ costuma anular ações contrárias ao governo.

A suspeita é que tenha havido superfaturamento, cartelização e acordos mediante propina. A ONG também exige explicações sobre atrasos nas obras, algumas das quais estão paradas.

"Alguns desses projetos, como na área de portos e transporte público, são extremamente importantes. O fato de estarem parados afeta tanto a qualidade de vida dos venezuelanos como a produtividade econômica", disse Freitas.

"Cabe perguntar se os brasileiros tinham mesmo a melhor expertise para tocar as obras e se haviam feito ofertas melhores que empresas de outros países", questiona a diretora da ONG.

Procurado, o governo venezuelano não se pronunciou.


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