Folha de S. Paulo


Caiado é tratado como candidato a presidente na Paulista

Mario Cesar Carvalho/Folhapress
Com camiseta do movimento Vem Pra Rua, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) faz selfie com apoiadores de sua candidatura a Presidência nos protestos na avenida Paulista. ( Foto: Mario Cesar Carvalho / Folhapress )
O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) participa de protesto com camiseta do Vem pra Rua

Na única vez que se candidatou à Presidência, em 1989, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) teve um desempenho pior do que micro-candidato: conseguiu só 0,68% dos votos. Neste domingo (16), nas manifestações em São Paulo, ele foi tratado como um gigante por movimentos como o Vem pra Rua. Nas três horas e meia que ficou na avenida Paulista, ouviu quase que o tempo todo gritos de "Brasil decente, Caiado presidente".

Com Caiado, não houve nem um sinal de repulsa a políticos, como aconteceu em protestos anteriores com outros parlamentares. O senador diz que esse tratamento cortês é resultado da sua história como parlamentar: "Isso tem a ver com a minha coerência. Não mudo de discurso para agradar quem quer que seja", disse à Folha, cercado por apoiadores da sua candidatura à Presidência. "E fui para a rua no primeiro dia, não cheguei agora".

Sobre a principal bandeira dos protestos, o "Fora Dilma!", Caiado já teve ao menos duas posições. Logo após um dos delatores da Operação Lava Jato, o empresário Ricardo Pessoa, ter dito que havia feito doações legais para a campanha de 2010 e 2014 de Dilma Rousseff (PT) que eram parte da propina combinada em contratos da Petrobras, Caiado começou a defender o impeachment da presidente.

Como essa hipótese jogava a presidência no colo do vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), o senador passou a defender a cassação da presidente e do vice por meio de uma ação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ele não explica por que mudou de posição, mas a análise mais comum é da que sua candidatura à Presidência se tornaria um projeto ainda mais inviável caso Temer assumisse a Presidência no lugar de Dilma.

Os apoiadores de Caiado preferem frisar o que consideram a maior qualidade do político, a coragem, quase sempre colocada em contraponto às posições dúbias dos tucanos.

A dona de casa Rosa Watanabe, 70, votou em Aécio Neves na última eleição presidencial, mas anda desgostosa com os tucanos ("estão muito em cima do muro") e passou a apoiar Caiado numa eventual candidatura à Presidência: "O Caiado é mais corajoso do que o próprio PSDB. Falou em corrupção, e ele está lá combatendo. Os tucanos estão pensando mais no cargo que ocupam do que em qualquer outra coisa".

A estrutura da campanha de Caiado é para lá de precária. Na avenida Paulista, ele contava com a mulher, as duas filhas e três seguranças que o acompanhavam há mais de vinte anos. Havia um único profissional de campanhas, Jair Costa, que tentava cavar um espaço para o senador discursar sobre um dos caminhões do Vem pra Rua. Não houve jeito, porém. O Vem pra Rua não topou. Houve até um convite para Caiado discursar no caminhão do Endireita Brasil, que defende os militares e o golpe de 1964, mas o senador fingiu que não ouviu a proposta e seguiu adiante.

Caiado diz que não sabe quem é o tal profissional e refuta, com voz de quem não gosta de ser contrariado, que queria discursar no caminhão do Vem pra Rua: "Se eu quisesse subir no trio elétrico, eu teria subido em dez caminhões. Sou amigo do Chequer", diz, referindo-se a Rogério Chequer, líder desse movimento. "Eu não estava lá para fazer discurso".


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