Folha de S. Paulo


Ato petista mistura falas de intelectuais com churrasco e samba

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Ao mesmo tempo em que movimentos que pedem o impeachment de Dilma Rousseff tomaram a Avenida Paulista, em São Paulo, na tarde deste domingo (16), uma manifestação a favor do governo e do PT aconteceu na sede do Instituto Lula, na zona sul da cidade.

O ato foi organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pela CUT e contou com estruturas como palco, carro de som e barraquinhas vendendo comida e bebidas, como uísque e cerveja. Houve também a bateria de uma escola de samba da liga de São Bernardo do Campo.

Bela Megale/Folhapress
Sindicalistas e petistas se reúnem em protesto em frente ao Instituto Lula, em São Paulo
Sindicalistas e petistas se reúnem em protesto em frente ao Instituto Lula

Segundo o presidente da CUT, Vagner Freitas, o evento foi um desagravo à bomba caseira lançada no Instituto Lula há duas semanas e também um apelo para que se chegue ao fim do clima de polarização que domina a cena política brasileira desde as eleições de 2014.

"Esse terceiro turno não acaba nunca e não deixa o Brasil crescer. Vamos parar com essa coisa de impeachment, teremos outra eleição em 2018 e Dilma não pode se reeleger. As pessoas votam em quem quiser", disse ele.

Freitas afirmou que está sendo ameaçado pelas redes sociais depois que sua declaração sobre pegar em armas "foi mal interpretada". "Falei no sentido figurado, nossa arma é a democracia. Estão ameaçando não só a mim, mas minha mulher, meus filhos."

Com camisetas de apoio ao ex-presidente estampando a mensagem "em defesa da democracia" e #somostodoslula, eles entoaram frases criticando os protestos que pedem o impeachment de Dilma. "Com o povo na rua, coxinha recua".

Uma série de políticos do PT marcaram presença no evento, como os deputados federais Vicente Cândido e Paulo Teixeira, o presidente do PT estadual de São Paulo Emídio de Souza, o secretário municipal Eduardo Suplicy, entre outros. Todos defenderam que aquele tipo de ato não exigia a presença de Lula, apesar do ex-presidente ser uma das figuras apoiadas.

Questionado sobre os bonecos do ex-presidente vestido de presidiário, nos protestos em Brasília e em São Paulo, a assessoria de imprensa do Instituto Lula afirmou que "Lula jamais cometeu qualquer ilegalidade antes, durante ou depois de seus dois governos" (leia a íntegra da nota ao final deste texto).

Segundo o secretário de comunicação do PT José Américo, houve um "monitoramento informal" do partido sobre os protestos pró-impeachment. "Concluímos que as manifestações arrefeceram no Brasil e um pouco menos em São Paulo. Foram números modestos", minimizou o petista sobre os protestos contra Dilma Rousseff.

O diretor do Instituto Lula que afirmou que iria "sentir o tom das ruas" na Avenida Paulista, Celso Marcondes, disse que percebeu uma diminuição do movimento. "Achei semelhante às anteriores, mas aparentemente com menos gente", relatou à Folha. "Havia uma mistura de pessoas indo protestar, famílias, e grupos mais radicalizados, com palavras de ordem golpistas, em torno dos carros de som", avaliou.

O ato também convocou a militância para o protesto de apoio à Dilma Rousseff marcado para 20 de agosto. "A tentativa de golpe não está desarmada. Temos que desarmá-la nas ruas, dia 20", disse o deputado Paulo Teixeira.

DEBATES

Em frente ao Instituto Lula foi montado um palco que recebeu para debates petistas, figuras públicas e intelectuais, como a psicanalista Maria Rita Kehl, o cartunista Laerte Coutinho e o professor de direito da USP Salomão Shecaira.

O jurista foi autor de uma das falas mais duras e citou o juiz Sérgio Moro, responsável pela condução das ações da operação Lava Jato. "Ninguém tem coragem de enfrentar o Sérgio Moro porque ele tem a mídia ao lado dele". Shecaira afirmou também que não se pode contar com o Congresso, "o pior da nossa história" e com o STF, que não dá garantias de que irá assegurar a manutenção da democracia.

Outros convidados para integrar o debate sobre democracia, o secretário municipal de São Paulo Arthur Henrique e o presidente da CUT Vagner Freitas, aproveitaram suas falas para defender os petistas João Vaccari e José Dirceu, presos na Operação Lava Jato. "Eles só prendem quem querem, sem fazer apurações", disse Freitas.

FESTA

Em clima de festa, manifestantes tiraram fotos com bandeiras do PT, beberam cerveja e uísque e comeram churrasco e sanduíche de calabresa.

O ambulante Willian dos Santos, que estava indo para a avenida Paulista, mudou de destino quando soube do ato em frente ao Instituto Lula. "Sou Lula, sou PT, por isso preferi vir para cá", afirmou.

Segundo ele, as vendas estão indo bem. "O pessoal está preferindo mais a cerveja, viu?"

A organização do evento afirmou que 5 mil pessoas participaram da manifestação pró-governo e pró-PT. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo contou 600 participantes.

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Leia a íntegra da nota do Instituto Lula abaixo.

Lula foi preso na ditadura porque defendia a liberdade de expressão e organização política. O povo brasileiro sabe que ele só pode ser acusado de ter promovido a melhora das condições de vida e acabado com a fome de milhões de brasileiros, o que para alguns, parece ser um crime político intolerável. Lula jamais cometeu qualquer ilegalidade antes, durante ou depois de seus dois governos.


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