Folha de S. Paulo


Após polêmicas, Kroll diz que não vai mais trabalhar para CPI da Petrobras

Após polêmicas e questionamentos sobre seu trabalho, a empresa de investigação Kroll divulgou uma nota nesta quinta-feira (13) afirmando que não vai mais atuar para a CPI da Petrobras.

A Kroll havia sido contratada por cerca de R$ 1 milhão para buscar contas no exterior dos investigados no esquema de corrupção na Petrobras. Em uma primeira fase do trabalho, que durou dois meses, entre abril e junho, a empresa fez um levantamento preliminar de bens ligados a 12 pessoas escolhidas pela CPI. Agora, a comissão discutia se iria fazer um segundo contrato para aprofundar o trabalho.

Com a demora na decisão, a Kroll divulgou a decisão de não celebrar mais esse novo contrato, pegando de surpresa os integrantes da CPI. O encerramento significou que a CPI gastou à toa R$ 1 milhão, já que esse trabalho preliminar de nada serve para a investigação.

"A Kroll informa que não celebrará novo contrato para trabalhos adicionais com a CPI da Petrobras, por não ter alcançado um acordo em relação aos termos contratuais", diz a nota.

A empresa afirmou ainda que os trabalhos estavam parados desde o dia 10 de junho, à espera de um posicionamento da CPI.

Desde o início, o contrato foi envolto de polêmica. Isso porque os nomes dos investigados foram decididos pelo presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), junto ao sub-relator André Moura (PSC-SE), sem deliberação dos demais integrantes da comissão.

Também havia suspeitas de que sua atuação pudesse beneficiar os políticos investigados na Operação Lava Jato, porque poderia desqualificar as delações premiadas.

Só nesta quinta (13) é que os nomes foram divulgados aos integrantes. A CPI pretendia discutir na próxima semana se celebraria o novo contrato com a Kroll.

Após ficar sabendo do cancelamento, Hugo Motta disse que a Kroll já vinha demonstrando insatisfação com a repercussão negativa do contrato com a empresa. Segundo ele, a CPI ainda vai discutir o que fará agora em relação à investigação da Kroll. "Os indícios não são conclusivos. É um trabalho que está sendo interrompido pela metade", afirmou.

O deputado Antônio Imbassahy (PSDB-BA) defendeu que os indícios identificados pela empresa sejam encaminhados ao Ministério Público Federal para que o órgão tente aprofundar o trabalho.

CHEQUE-CAUÇÃO

Segundo relatos de participantes da reunião fechada, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), afirmou que o trabalho todo poderia chegar a um custo de R$ 10 milhões.

A Kroll, ainda segundo os relatos, também exigiu da CPI um cheque-caução para o pagamento de possíveis indenizações que podem ser solicitadas pelas pessoas que foram investigadas.

Os investigados pela Kroll são:

  • Stael Janene, viúva do ex-deputado José Janene
  • João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT
  • Renato Duque, ex-diretor da Petrobras
  • Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras
  • Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras
  • Alberto Youssef, doleiro
  • Augusto Mendonça, empresário
  • Julio Camargo, lobista
  • Eduardo Leite, executivo da Camargo Corrêa
  • Dalton Avancini, executivo da Camargo Corrêa
  • Julio Faerman, ex-representante da SBM
  • Ricardo Pessoa, dono da UTC

Fora Janene, Vaccari e Duque, todos os demais assinaram acordos de delação premiada com o Ministério Público Federal.

O objetivo da contratação da Kroll foi, principalmente, descobrir se os delatores omitiram da Justiça informações sobre recursos que mantinham guardados no exterior, o que poderia questionar a credibilidade de suas delações. Com isso, os políticos investigados na Lava Jato, dentre eles o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), podem se beneficiar.

O contrato da Kroll foi articulado por Cunha.


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