Folha de S. Paulo


'Viemos pedir a cabeça do Cunha', cantam Margaridas em Brasília

A Marcha das Margaridas, que reúne cerca de 30 mil pessoas em Brasília na manhã desta quarta-feira (12), segundo estimativa da Polícia Militar, chegou à Esplanada dos Ministérios e ao Congresso aos gritos de "Fora, Cunha!".

Organizada pela Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), a marcha é composta principalmente de mulheres agricultoras de vários Estados do país. Há também estudantes universitárias, sindicalistas e grupos feministas. O público vindo de outros Estados ficou alojado no estádio Mané Garrincha, de onde partiu no início da manhã.

Por volta das 10h, o ato começou a circundar o Congresso, com a orientação de "virar as costas" para o Parlamento, sob palavras de ordem contra a regulamentação e a ampliação das terceirizações –projeto recentemente aprovado pelos deputados–, críticas à redução da maioridade penal e às discussões sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

"Marcha, mulher, marcha / molha os pés mas não faz a unha / viemos de todo o Brasil / pedir a cabeça do Cunha", cantava uma manifestante do alto do carro de som. Presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) declarou guerra ao governo e vem impondo à presidente várias derrotas na Casa.

Na rua, faixas contra a violência doméstica, de "Não ao racismo" e de "Golpe não". O ato, que recebeu patrocínio de R$ 855 mil de empresas estatais como a Caixa e o BNDES, serviu como uma espécie de desagravo em favor da presidente.

Ao longo da Esplanada dos Ministérios, vários grupos de servidores públicos, como os do SUS, empunhavam faixas de apoio à marcha. Nesta semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) apresentou ao Planalto uma agenda com medidas para ajudar o governo a enfrentar a crise –entre elas, instituir cobranças no SUS de acordo com a faixa de renda.

Por volta das 11h30, um grupo de representantes das Margaridas foi recebido no Senado para uma sessão solene com deputados e senadores. No plenário, Carmen Foro, da Contag, fez críticas à "contrarreforma política" aprovada recentemente na Câmara, ao projeto de lei que prevê mudar o marco regulatório da exploração do pré-sal, que tramita no Senado, e ao ajuste fiscal –que ela atribuiu ao Congresso, e não ao Executivo.

Às 15h, as Margaridas deverão ser recebidas pela presidente Dilma no Palácio do Planalto. Segundo Maria das Neves, 27, da UJS (União da Juventude Socialista), o grupo vai apresentar à petista a pauta da manifestação e reforçar a "confiança" de que "a melhor saída para a crise é respeitar um governo eleito democraticamente".

Maria negou que a marcha seja um contraponto ao protesto contra o PT marcado para o próximo domingo (16). Segundo ela, a marcha foi agendada há mais de um ano para esta quarta (12) –quando se completam 32 anos do assassinato da agricultora paraibana Margarida Alves, que dá nome ao evento.

DISCRIMINAÇÃO

Agricultora e quebradeira de coco de babaçu assentada no município de Praia Norte (TO), Iranir Alves Gomes, 45, disse que a imprensa culpa Dilma pela crise, mas poupa os congressistas.

"As propostas dela [Dilma] são discriminadas porque ela é mulher. Ninguém fala que quem manda mesmo são os homens do Congresso", afirmou.

A pista do Eixo Monumental foi interditada do lado norte, e o trânsito foi desviado pela PM para as vias paralelas. Segundo o major Roballo, que comanda a operação, a Marcha das Margaridas, realizada em Brasília a cada dois anos, é a maior que a cidade recebe, e também uma das mais tranquilas –nunca houve registros de confrontos.


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