Folha de S. Paulo


Ex-senador repassou doações da UTC que seriam propina no DF

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 09-09-2015, 17h00: O dep. Alberto Fraga (DEM-DF) faz selfie com o pixuleko. Parlamentares da oposição ganharam do movimento revoltados online bonecos infláveis pixulekos, simbolizando o ex presidente Lula com roupa de presidiário. Alguns deputados entraram no plenário com o boneco, gerando reclamações dos deputados governistas. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O deputado Alberto Fraga (DEM-DF) faz selfie com o boneco Pixuleko na Câmara

O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) distribuiu a, ao menos, seis campanhas no Distrito Federal parte do dinheiro que o dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse ter pagado a ele como propina para obter proteção para empreiteiras na CPI da Petrobras em 2014.

Em acordo de delação premiada fechado na Operação Lava Jato, Pessoa disse que a UTC pagou R$ 5 milhões a Gim em doações eleitorais. O senador, que não se reelegeu, era vice-presidente da CPI.

Parte do valor –R$ 3,5 milhões– foi usado por Gim para apoiar seis candidatos no DF, três deles eleitos: um deputado federal e dois distritais. As doações foram declaradas à Justiça Eleitoral.

A Folha ouviu o ex-governador José Roberto Arruda (PR, ex-DEM), o ex-senador Luiz Estevão (PRTB), o deputado Alberto Fraga (DEM) e a assessoria de um parlamentar, esta sob condição de anonimato: todos disseram que Gim viabilizou e repassou dinheiro da UTC às campanhas.

Doações de R$ 3,5 milhões a campanhas da coligação encabeçada por Arruda (PTB/PR/DEM/PRTB/PMN) em 2014 surpreenderam, já que a UTC não executa obras no DF.

"Ele [Gim] buscou ajudar as campanhas, sim", confirmou Arruda, cuja campanha a governador, depois barrada pela Justiça Eleitoral, recebeu R$ 1 milhão da UTC. Arruda afirmou não saber por que Gim arrumou o dinheiro.

Alberto Fraga disse que havia um objetivo nas doações viabilizadas por Gim: buscar apoio à sua reeleição ao Senado. Segundo o deputado, o dinheiro foi prometido por Gim em uma reunião da coligação.

"Ele me disse: 'Fraga, eu preciso de sua ajuda, politicamente, e vou lhe ajudar, viabilizar recursos para sua campanha'", afirmou. A doação, de R$ 1 milhão, representou 72% do total arrecadado.

DIVERGÊNCIAS

Entre os integrantes do PRTB-DF, as doações de Gim são foco de controvérsia. A deputada distrital Liliane Roriz, que teve 99% da campanha bancada pela UTC, com doação de R$ 1 milhão, alegou em nota à Folha que o valor chegou "via PRTB" e que "a negociação foi feita pelo presidente de honra do PRTB, senador Luiz Estevão".

Mas, segundo Estevão, houve um acerto entre Gim e a família Roriz: "A deputada Liliane me procurou informando que receberia uma doação de R$ 1,2 milhão, que teria sido articulada pelo senador Gim Argello, e me perguntou se essa doação poderia ser feita na conta do partido, e então repassada a ela".

O dinheiro passou do caixa do PRTB para a campanha de Liliane e algumas vezes foi sacado das contas do partido.

Secretário-geral da Câmara Distrital do DF, Valério Campos, colaborador de Roriz e amigo de Gim, atuou na campanha de Arruda em 2014 e disse acreditar que o ex-senador ajudou candidatos da coligação, mas negou ter participado dos repasses.

OUTRO LADO

Gim Argello afirmou que só falará sobre as doações depois que tiver acesso à delação do empreiteiro Ricardo Pessoa.

Os políticos e partidos que receberam doações da UTC disseram que não conheciam Pessoa e não sabiam de acordo entre Gim e o empreiteiro.

Arruda disse que recursos da UTC entraram após sua substituição na campanha por Jofran Frejat; Frejat afirmou que não recebeu "um centavo" da UTC –segundo a Justiça, a empresa doou a Arruda um mês antes de a candidatura ser barrada.

Alberto Fraga (DEM) disse que na eleição "não havia nem denúncia nem suspeita sobre UTC". Luiz Estevão (PRTB) afirmou que nunca conversou com Pessoa sobre doações. Por meio de assessoria, Liliane Roriz informou que as doações foram legais.


Endereço da página:

Links no texto: