Folha de S. Paulo


Lobista ligado ao PMDB começa a negociar delação premiada

Geraldo Bubniak - 19.nov.14/AGB/Folhapress
O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, detido pela Operação Lava Jato
O lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, detido pela Operação Lava Jato

Preso há mais de oito meses, o lobista Fernando Soares, o Baiano, deu sinais de que chegou ao seu limite e passou a negociar uma delação premiada para contar o que sabe sobre o envolvimento do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras.

Nesta quinta-feira (6), ele, que é apontado como operador do partido em contratos da estatal, esteve reunido por mais de oito horas com representantes da Procuradoria-Geral da República, na sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele pernoitou no local.

O escopo do acordo deverá ser fechado em Brasília por envolver políticos com foro privilegiado.

Pela primeira vez, o lobista esteve acompanhado do advogado Sergio Riera, porque seu time de defensores até aqui, liderado por Nelio Machado, é crítico do instituto da delação.

"Ainda não assumimos o caso, estamos conversando", disse Riera ao deixar a PF.

Segundo ele, a decisão de Baiano sobre uma delação será tomada com a família dele até o fim de semana.

Para investigadores ouvidos pela Folha, Baiano é considerado uma peça-chave para esclarecer a acusação lançada pelo lobista e delator Julio Camargo contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Segundo Camargo, o deputado pediu e recebeu propina de US$ 5 milhões, que foram entregues por meio de Baiano. Cunha nega a acusação.

FAMÍLIA NOS EUA

Desde o início do ano, a família vem pressionando Fernando Baiano a fazer a delação. Quando ele deixou de ser defendido pelo advogado Mario de Oliveira, alguns dos parentes cogitaram a contratação de Beatriz Catta Preta, que fechou nove colaborações na Lava Jato.

Ela apresentou orçamento de sete dígitos para negociar sua delação. Baiano acabou seguindo pela defesa clássica, contratando Nelio Machado. A pressão familiar não cessou.

A esposa do lobista, que possui cidadania americana, viajou recentemente com os dois filhos pequenos para os Estados Unidos, devido à exposição e ao sofrimento que a prisão de Baiano tem causado à família, segundo relataram à Folha pessoas próximas ao casal.

Os dois filhos são assunto frequente de Baiano, que costuma mostrar as fotos dos meninos e falar da falta que sente das crianças. A interlocutores, contou, emocionado, que, em uma conversa telefônica com um dos filhos, ficou sem palavras quando ele pediu para o pai deixar de trabalhar e voltar para a casa.

A pressão também vem de parte dos procuradores.

Na terça (4), quando Baiano foi levado à superintendência da Polícia Federal, procuradores apresentaram ao lobista uma série de documentos que tornariam ainda mais difícil sua saída da prisão –o que o deixou mais abalado.

SONDAS

Enquanto o acordo avança, a atual defesa de Baiano protocolou as alegações finais na ação penal em que ele responde por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na contratação de navios-sonda pela Petrobras.

Na peça, Machado e outros sete advogados pedem a nulidade da delação de Julio Camargo e de seus efeitos, pelo fato de ele ter mudado de versão, em julho, ao envolver Eduardo Cunha.

Quando firmou acordo, em outubro de 2014, Camargo havia negado o pagamento de propina a agentes públicos.

-

À ESPERA DE NOVAS DELAÇÕES
Quem ainda não colabora com a Operação Lava Jato e como eles podem ajudar nas investigações

Renato Duque
ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras
Preso desde 16.mar
Réu em 5 ações
Foi apontado por delatores como o principal representante dos interesses do PT dentro da estatal. É suspeito de ordenar repasses ao ex-ministro José Dirceu, receber propina em obras como o Comperj e controlar contas no exterior

Fernando Baiano
lobista
Preso desde 18.nov.14
Réu em 3 ações
É apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção. Foi acusado por um delator de ter intermediado o pagamento de US$ 5 milhões ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)

Leo Pinheiro
ex-presidente da OAS
Preso em 14.nov.14, foi solto em 29.abr.15
Réu em 1 ação, já foi condenado em outra ação por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa
A OAS patrocinou viagens do ex-presidente Lula ao exterior e, segundo um delator, repassava propina do petrolão ao ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto

Nestor Cerveró
ex-diretor Internacional da Petrobras
Preso desde 14.jan
Réu em 1 ação, já foi condenado em outro processo por lavagem de dinheiro
É apontado como elo do PMDB com a Petrobras no esquema de desvios. Uma eventual delação é vista por investigadores como um dos principais caminhos para se chegar a caciques do partido

Marcelo Odebrecht
presidente do grupo Odebrecht
preso desde 19.jun
Réu em 1 ação
É acusado de comandar pagamentos de propina da empreiteira, a maior do país, a funcionários da Petrobras por meio de offshores


Endereço da página: