Folha de S. Paulo


Temer cobra 'responsabilidade' de aliados e diz que 'momento é grave'

Bruno Domingos - 24.jun.2015/Reuters
O vice Michel Temer e a presidente Dilma conversam durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília
O vice Michel Temer e a presidente Dilma conversam durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília

Um dia após o governo sofrer uma nova derrota na Câmara dos Deputados, o vice-presidente Michel Temer reconheceu que "o momento é grave" e pediu "responsabilidade" aos parlamentares da base aliada durante duas reuniões na manhã desta quarta (5).

Em discurso duro a senadores no Palácio do Jaburu, Temer disse que não é hora de beneficiar o Palácio do Planalto ou os partidos políticos, mas sim de "trabalhar em benefício do país".

Nesta terça-feira (4), os deputados decidiram pela votação do primeiro item da chamada "pauta-bomba", contrariando o acordo fechado pelo Executivo com os líderes da base aliada e com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para adiar a votação de projetos que onerem as contas públicas.

Na hora da votação individual sobre a proposta de adiamento, deputados da base votaram contra a orientação de seus partidos e, com isso, apreciariam nesta quarta a PEC 443, que equipara salários da AGU (Advocacia-Geral da União) e de delegados aos do Judiciário. O projeto precisa ainda passar pelo Senado.

No fim da manhã desta quarta, porém, Cunha afirmou que, após acordo dos líderes, a medida será votada somente dia 25.

Aos senadores, Temer criticou as posições da Câmara e ouviu de Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, que o Palácio do Planalto está "dormindo com o inimigo".

Isso porque, argumentou o petista, muitos deputados que estavam na segunda-feira (3) no jantar oferecido pela presidente Dilma no Palácio do Alvorada "tramaram" contra ela em seguida, votando contra o governo.

Na ocasião, Dilma havia feito um apelo aos líderes da base e a presidentes de partidos aliados para que eles ajudassem a evitar a votação das pautas-bombas. Em meio ao ajuste fiscal, o governo quer evitar a aprovação de projetos que demandem ainda mais gastos à União.

Pouco depois da reunião no Jaburu, que contou, além de Delcídio, com os senadores José Pimentel (PT-CE), Acir Gurgacz (PDT-RR), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Humberto Costa (PT-PE), Eunício Oliveira (PMDB-CE), entre outros, Temer convocou os líderes da base na Câmara em seu gabinete na vice-presidência para dar o mesmo recado.

Ao lado do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e dos ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Eliseu Padilha (Aviação Civil), o vice-presidente cobrou os deputados e fez um novo apelo, pedindo "compromisso" com as contas do governo e a questão federativa.

'BASE EXAURIDA'

Ao sair da reunião com Temer, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), disse que as derrotas sequencias do governo no Congresso se dão porque "o modelo de base exercido até aqui se exauriu".

"A derrota de ontem demonstra aquilo que vem sendo alertado pelos líderes da base. É preciso montar um novo modelo de base de sustentação parlamentar", disse Picciani. "Evidentemente que a correlação de forças dentro do governo não está adequada à correlação de forças que existe atualmente dentro do Congresso", completou.

Questionado por jornalistas se estava falando sobre distribuição de cargos, o peemedebista afirmou que "não é só isso". "Há pleitos de ocupação de espaço, mas não é só isso. Também participação política do núcleo de decisões políticas e estratégicas".


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