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Preso em Ribeirão, irmão de José Dirceu tem vida discreta na cidade

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
O irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, na sede da PF em São Paulo (SP)
O irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, na sede da PF em São Paulo (SP)

Nomeado pelo próprio Antonio Palocci (PT) diretor de uma das autarquias da Prefeitura de Ribeirão Preto na década passada, o empresário Luiz Eduardo de Oliveira e Silva foi preso na cidade do interior paulista na manhã desta segunda-feira (3), onde mora.

Ele foi detido na mesma fase da Operação Lava Jato que resultou na prisão de seu irmão, o também ex-ministro petista José Dirceu. Ambos são sócios na JD Assessoria e Consultoria. A relação entre os dois é que determinou a detenção de Silva.

O empresário teve a prisão temporária de cinco dias decretada e foi detido de manhã por uma equipe da Polícia Federal em sua casa, localizada na zona sul de Ribeirão, uma das áreas mais nobres da cidade. A prisão faz parte da 17ª etapa da operação Lava Jato, que resultou na prisão de outros suspeitos além de Dirceu.

Silva não é desconhecido apenas nacionalmente. Mesmo entre seus vizinhos de Ribeirão, onde leva uma vida discreta, poucos sabiam de suas relações com o ex-ministro –nem do parentesco.

De sua casa, na cidade paulista, Silva comandava pessoalmente a JD. A suspeita é que a empresa tenha recebido propina com dinheiro desviado da Petrobras em troca de tráfico de influência.

Oficialmente, a defesa dos irmãos alega que os recursos foram recebidos por consultorias. Silva tem 60% na sociedade da JD.

O empresário foi levado de carro de Ribeirão para São Paulo. De lá, deve ser transferido para Curitiba ainda nesta segunda. Lá, prestará depoimento para procuradores e PF.

'PESSOA SIMPÁTICA'

A Folha falou com vizinhos de Silva logo após a prisão. Um deles, que pediu para não ser identificado, classificou o empresário como uma "pessoa simpática" e afirmou que nem sabia do parentesco com Dirceu. Ele disse ainda que "ninguém aqui tem relação próxima com ele".

O arquiteto Ciomar Carvalho disse que via com alguma frequência Silva fazendo caminhada no parque Curupira, próximo à casa dele. "Mas acho que ninguém sabia da ligação dele com essa coisa do Zé Dirceu, de corrupção", disse.

A Folha também ligou na casa de Silva. Um funcionário atendeu e confirmou se tratar da residência dele, mas se negou a dar declarações. "Ninguém aqui está autorizado a falar nada. Essa é a ordem", disse a mulher, que não se identificou e desligou quando a reportagem pediu contato dos advogados do empresário.

GOVERNO PETISTA EM RIBEIRÃO

Silva atuou nos governos petistas da Prefeitura de Ribeirão (2001-04). Em 2001, Silva foi indicado e nomeado por Palocci, então prefeito de Ribeirão, como diretor financeiro da Transerp (empresa que gerencia o transporte coletivo na cidade paulista). Lá ficou até 2004, já no governo Gilberto Maggioni (hoje no PTB).

Palocci renunciou à prefeitura após a eleição de Lula, em 2002, e deixou Maggioni, seu vice, no governo municipal. Depois, Palocci foi ministro de Lula (Fazenda) e de Dilma Rousseff (Casa Civil).

Segundo apurou a Folha, Silva tinha, no período que foi diretor da Transerp, muita influência e era o responsável pela administração cotidiana da empresa.

Ainda em sua gestão, foi alvo de uma ação civil pública, ingressada pelo promotor Sebastião Sérgio da Silveira, por enriquecimento ilícito. Também foi réu, em parceria com outros diretores, em uma ação que pedia o ressarcimento de R$ 356 mil por conta de irregularidades contábeis realizadas durante sua gestão. Em ambos os casos, não houve condenação.

"Lembro do caso, mas não recordava do parentesco do Luiz Eduardo com o José Dirceu. De toda forma, o Ministério Público viu irregularidades na atuação dele e de outros réus e optou pela ação, que acabou não sendo acatada [pela Justiça]", disse o promotor.

DELAÇÕES

A PF incluiu a JD Assessoria e Consultoria em um grupo de 31 empresas suspeitas de promoverem operações de lavagem de dinheiro em contratos das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco –construção iniciada em 2007, que deveria custar R$ 4 bilhões e consumiu mais de R$ 23 bilhões da Petrobras.

José Dirceu foi apontado por Júlio Camargo, um dos ex-dirigentes da empresa Toyo Setal, como tendo recebido propina para garantir contratos da empresa com a Petrobras intermediando a contratação com José Sérgio Gabrielli, então presidente da estatal.

Além de Camargo, o doleiro Alberto Youssef também informou que as empresas Camargo Corrêa e Mitsui Toyo deram propina ao PT, sendo que o dinheiro foi pago a José Dirceu e ao tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. Na ocasião, Dirceu divulgou uma nota negando a prática e acusando Youssef de acusá-lo sem provas.

BOB

Também foi preso nesta segunda Roberto Marques, assessor e amigo do círculo íntimo de Dirceu.

Chamado por todos de Bob, Marques é figura conhecida no PT por cuidar da agenda e de parte das finanças de Dirceu.

No escândalo do mensalão, documento apreendido pela Polícia Federal na agência do Banco Rural mostrou que Bob era uma das pessoas autorizadas a sacar dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério, hoje preso por participar do esquema.


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