Folha de S. Paulo


Cerveró agia para beneficiar grupo político, diz Ministério Público

Sérgio Lima - 2.dez.2014/Folhapress
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró após chegar ao Senado para depor em CPI
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró após chegar ao Senado para depor em CPI

Em documento enviado nesta quinta (23) à Justiça, o Ministério Público Federal pediu a condenação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso sob suspeita de ter participado de desvios na estatal, e afirmou que ele agia para "beneficiar o grupo político que o indicou para o cargo".

"Tal como nas crônicas de Rudyard Kipling [escritor britânico, 1865-1936], não existia almoço grátis na diretoria internacional da estatal", escrevem os procuradores, em referência ao suposto recebimento de propina pelo ex-diretor.

A indicação de Cerveró à diretoria Internacional da Petrobras, de acordo com as investigações da Operação Lava Jato, é atribuída ao PMDB. O ex-diretor e o operador Fernando Soares, o Baiano, agiriam para beneficiar políticos do partido. Ambos negam participação no esquema.

"A conduta de Nestor Cerveró sempre foi motivada não só por sua própria ganância, mas também pela indicação política que o colocou no cargo de diretor", afirmam os procuradores.

Os comentários foram feitos nas alegações finais de um processo em que Cerveró é réu.

O Ministério Público pediu a condenação de Cerveró, Baiano, do empresário Júlio Camargo e do doleiro Alberto Youssef (os dois últimos, delatores do esquema), pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Eles são acusados de promover o pagamento de US$ 40 milhões em propina para Cerveró, em troca da contratação de dois navios-sonda pela Petrobras, entre 2006 e 2007.

Segundo os procuradores, Cerveró e Baiano tinham uma "amizade íntima". O operador, escrevem, era movido por "motivos puramente egoísticos e tinha uma personalidade desprovida de qualquer reserva", enquanto o ex-diretor "confundiu o público e o privado e atuou visando seus próprios interesses".

OUTRO LADO

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, diz que as alegações da Procuradoria estão "totalmente divorciadas das provas", e afirma que seu cliente é inocente.

"Eu não vejo um elemento de prova que possibilite, tecnicamente, uma condenação de Nestor Cerveró. Ele foi inocentado pelo próprio delator [Júlio Camargo], que declarou que nunca ofereceu ou pagou qualquer valor a Cerveró", diz Ribeiro.

O defensor também nega que seu cliente tenha vínculo político, e diz que sua indicação à diretoria foi feita "por méritos próprios". "Isso não existe. Rechaço totalmente a insinuação", afirma.

A defesa de Baiano refutou as acusações e informou que elas "não têm consistência nas provas dos autos". O suposto vínculo político da propina, afirma o advogado David Teixeira de Azevedo, é uma "fabulação do Ministério Público".

PRESSÃO

Nos memoriais de alegações finais, o Ministério Público Federal também faz referência às "pressões" sofridas por Júlio Camargo, com base no depoimento do empresário prestado na semana passada à Justiça.

Camargo acusou Baiano de agir em nome do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de o ameaçar caso ele não pagasse a propina do contrato.

"Ele [Baiano] me disse: 'Júlio, realmente, nós estamos com problema, porque eu estou sendo pressionado violentamente, inclusive pelo deputado Eduardo Cunha. E isso aí vai chegar numa situação muito embaraçosa pra mim, mas pra você, com certeza, vai ser muito mais embaraçosa'", contou Camargo.

Cunha nega as suspeitas, diz que o delator mente e que suas afirmações fazem parte de uma manobra do Planalto para atingi-lo. Ele entrou com uma reclamação no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo para que o processo seja movido para Brasília, devido ao foro privilegiado.

O ministro Ricardo Lewandowski pediu que o juiz Sergio Moro, da Vara Federal em Curitiba, se manifeste em até dez dias, antes de decidir sobre a ação.


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